Bruna - Felipe não disse mais nada

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─ Bruna...

Felipe não disse mais nada. Eu o abracei como se ele fosse minha tábua de salvação. Como se ele pudesse fazer alguma coisa. Ele me apertou forte. Eu precisava daquilo. Eu precisava de um ombro amigo. Eu precisava saber que não estava sozinha no mundo.

Meu dia girava em torno daquela UTI. Cada minuto era de extrema importância. E eu precisava ficar ali. Sem pausa. Sem descanso. Daniela desmarcou todos os meus compromissos do dia. Nada muito importante. Mas ela ficava toda hora me ligando, dizendo que isso não era certo e que eu sabia que cedo ou tarde o pior iria acontecer. Sutileza zero. Desliguei o celular. Se eu tivesse um pingo de força para revidar, teria mandado ela a... Deixa para lá!

Minha madrinha ficou comigo o quanto pôde, mas tinha de trabalhar, coitada. Saiu de casa com tudo escuro, pegou três conduções, veio sem nem tomar café, somente para ficar comigo. Para não me deixar sozinha.

Mas acontece que eu sou sozinha.

No fundo, só posso contar comigo. Desde sempre. Com uma ajudinha aqui e outra ali, mas, na maior parte das vezes, sou eu comigo mesma para dar conta das merdas da vida. E poucas vezes senti pena de mim por conta disso. Se era para ser assim, que fosse. Dou conta. Levo uma rasteira e me levanto de salto quinze. Nunca me faltou nada, porque eu sempre batalhei de peito aberto. Lutei pelo meu espaço.

Mas eu não sabia o que faria se perdesse meu alicerce. Meu exemplo de mulher. Minha única fonte verdadeira de amor. Minha avozinha linda.

Felipe conviveu comigo o suficiente para saber o que ela significava para mim. Um cara e tanto. Um amigo. Perder seu tempo para estar aqui comigo. Seu precioso tempo. Literalmente, um tempo de ouro. Ele estava sendo extremamente generoso.

Perdeu a escola por minha causa. Justo ele que já tinha tantas faltas. Foi ele que me obrigou a comer alguma coisa. Eu nem estava pensando nisso. Somente quando ele me levou à cafeteria do hospital é que me dei conta de que fazia muitas horas que eu não me alimentava.

Comi um sanduíche abraçada a ele. Não dizíamos muitas coisas. Estávamos apenas um ao lado do outro. Dividíamos um pouco da minha dor. A presença dele diminuía ao menos a ansiedade por notícias.

Milena não parava de ligar. Ele desligava a ligação na cara dela sem atender.

─ Era melhor você atender ao telefone. – Eu disse.

─ Não. – Balançava a cabeça indignado. – Expliquei a situação a ela. Se é incapaz de compreender... – Levantou ou ombros.

─ Não quero que você brigue com a Milena por minha causa. Sei o quanto você é louco por ela.

─ O problema não é isso aqui. – Apontou para nós dois. – É bem maior do que isso. Já estou cheio de tantos problemas. Gostaria que ela me ajudasse mais a procurar pelas soluções. Mas ela parece não entender meus motivos e fica me pedindo mais e mais atenção.

─ Não queria te trazer problemas. Juro. Você é um amor, Lipe. Mas posso lidar com tudo isso. – Não podia, mas precisava deixar meu amigo livre para partir.

─ Você não é um problema, Bruna. Você é uma amiga. Hoje talvez seja apenas a gota d'água.

Terminei meu sanduíche em silêncio sem saber o que dizer. Não teria mesmo forças para encarar qualquer outra situação. Além do mais, quem era eu para dar conselhos sobre coisas do coração. Voltamos para a sala de espera. Lá chegando, dou de cara com Carlos Eduardo. De uniforme. Não pude deixar de sorrir.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora