〜Three〜

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Mais um dia aqui nesse lugar, que é tão semelhante ao inferno. Se eu tive progressos? Infelizmente, não.

Segui minha rotina diária. Fui ao banheiro, tomei banho, me vesti e fui atrás de algo para comer na cozinha. Como sempre, não tinha muita opção, mas era o suficiente para mim.

-Pão... Pão? Pão.

Falava sozinha enquanto andava de um lado para o outro pegando coisas na prateleira. É, né... Já que eu não tinha com quem falar, vai a consciência mesmo. Tá ótimo.

-Hum, comestível.

Comi o sanduíche em poucos segundos. Na verdade, enfiei o pão todo na boca e QUASE morri engasgada. Se não fosse pelo meu curso de primeiros socorros, eu não seria mais a tão amada personagem principal dessa história. Mentira, eu só bebi água mesmo.

Continuei sentada na cadeira e com os braços apoiados no balcão, observando os outros moradores da casa acordando, um por um. Todos muito animados e sorridentes (ironia on). Será que hoje eu consigo me manifestar?

(...)

O pessoal parece agitado. Devem estar falando sobre alguém... Tava aquele ar de fofoca, sabe? Reconheço de longe. Opa, gente nova na casa? Uuuh, minha chance!

- Eae, rapaziada! Qual é a boa? - eu realmente me esforcei para ser simpática, mas ninguém me notou. - Qual é, gente? Por que estão me ignorando, hum? - pra minha surpresa, recebi uma resposta.

- Você é uma estranha, desconhecida... esperava que fosse convidada para um chá da tarde?  - um deles me respondeu, afiado.

-Anjos não são aceitos, meu bem- Dessa vez, outra pessoa proferiu a frase.

- E vocês não fazem amizade com seres um pouquinho diferentes? Que absurdo.- Pude notar uma revirada de olhos.- Ya, seus preconceituosos... xenofóbicos! - minha tentativa de ofender alguém não deu muito certo... Acho que falei no tom errado, porque pude escutar uma risadinha breve, com uma ponta de deboche.

Isso foi uma tentativa falha de criar intriga, ok, pessoal? Poxa, nem assim eles falavam comigo... Não devem ter argumentos... É, deve ser isso. Eu prefiro pensar assim.

- Então... vocês não podem mesmo me deixar participar das conversas? Eu não estou pedindo para serem meus amigos, apenas me deixem falar com vocês e ser correspondida, hein? -  eles não são fáceis de lidar. Pelo amor de deus, eu só queria deixar de ser excluída.. Nem que fosse pra conversar com.. Não sei, um gnomo?! - Por que não podemos ter uma convivência saudável? Estamos dividindo a mesma casa... No mínimo eu gostaria de receber um "bom dia, boa tarde, boa noite". É o básico da educação- desisto, eles não me escutam. Não querem me escutar.

Eu não tinha ideia de como eles descobriram minha identidade. Será que eu era tão famosa lá no céu, que o povo da terra me conhecia? Olha, que moral. Pena que não é isso.

Como esperado, ninguém veio falar comigo. Nem mesmo voltaram à olhar na minha cara. Sou tão bonita... Isso é um desperdício.

Saí de casa pela porta da frente e sentei no chão da varanda, que é feito de madeira, esticando minhas pernas e encostando minha cabeça na parede, perto da porta.

Olhava as formiguinhas carregando migalhas enquanto pensava "a vida delas com certeza está melhor do que a minha". Levantei minha cabeça e fitei o céu.

- Pai, paizinho, meu bem, minha vida, meu amor, o senhor pode me dar outro castigo? Eu não suporto mais ficar aqui. Não percebe? Eu não fiz nada até agora! Isso é inútil. - suspirei - eles até mesmo já sabem que eu sou um anjo... tudo bem que, esse meu sorriso meigo e rostinho angelical dizem muita coisa, mas eles não podiam ter descoberto. O que eu devo fazer?

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