✓ a flor silvestre de josh frye.

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Branco

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Branco. O meu quarto era todo branco, eu sempre peço para o meu papai o pintar de rosa, eu gosto de cores, gostaria de acordar cercada por elas, mas ele diz que colorir minhas paredes seria impossível, ele diz que o rosa não existe além dos lápis de cor, apenas branco, no início eu fiquei confusa, se existe muita tinta branca porque não poderia existir rosa? É complicado, e papai diz para eu não pensar muito nessas coisas, ele diz que pensar muito nas coisas de fora da Casa podem brincar com o meu cérebro, ele diz que isso não seria nada bom, mas eu gostaria de brincar com o meu cérebro, o que será que ele sabe?

No meu quarto também não tem janelas, e as da casa são cobertas com tábuas, uma vez eu perguntei ao papai porque não podíamos abrir elas, e então ele me assustou, papai costuma fazer muito isso, ele me assusta, me contando histórias dos monstros que vivem do lado de fora da Casa, papai diz que eles são criaturas nojentas, demônios que irradiam chamas, ele disse que foram mandados a terra por Lúcifer, e que nós dois somos os únicos que sobreviveram a essa destruição, meu papai me salvou e por isso não me importo de não ter janelas, ele diz que assim estou segura, e eu me sinto segura.

Às vezes eu penso se há mais alguém como nós dois do lado de fora, como eu e meu papai, normais, se ainda gravam os programas da tevê, se são achatadas ou se existem mesmo folhas verdes e árvores, o que existe do lado de fora da Casa o papai nunca me contou, apenas diz que os monstros destruíram tudo, eu nunca pedi a ele que me trouxesse alguma coisa do lado de fora, nada detalhado, também nunca perguntava onde ele conseguia a nossa comida e as coisas que ele trazia em suas saídas, ele sempre demorava muito e eu ficava sozinha na Casa, como estou agora, nesse segundo papai saiu a muito tempo e estou entediada, ele me ensinou essa palavra ontem, antes de sair como costumava:

— Não quero ficar sozinha. — havia cruzado os braços e feito um bico com os lábios, ainda estava de pijama, o meu pijama de margaridas.

Sarah. — ele disse em um tom de aviso, eu sabia que nada do que dissesse o faria ficar em Casa comigo, ele disse uma vez, não o podia fazer, precisava sair.

Soltei os braços do meu aperto e fiz um barulho de não contentamento, uma birra, eu nunca gostava de ficar sozinha por longas horas sem o papai por perto, ele sempre falava que eu estaria segura se não saísse da Casa, mas eu ainda sentia algo me deixando triste, eu não sabia que sentimento era esse, mas me deixavam mal e era desconfortável.

— Eu não gosto de ficar sozinha, eu fico... fico com... Papai, eu não sei explicar, é muito chato. — falei sentindo vontade de chorar, eu nunca conseguia explicar o que sentia em relação às coisas e a própria Casa, eu não sabia o que eram e papai quando me compreendia tirava minhas dúvidas.

— Você fica entediada, minha Flor Silvestre, é quando o nada te chateia, olhe para mim. — ele disse se abaixando perto de mim, me agarrou no colo e me pôs sentada em suas pernas dobradas, eu engolia o choro. — Sabe que não posso passar a tarde com você não sabe? — eu assenti e sentia o meu queixo tremer de novo.

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