Por que você quer morrer?

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Quanto mais YongSun fitava o espelho mais ela se odiava. Ver seu reflexo causava grande repulsa, queria correr para o banheiro e colocar para fora o nojo que sentia de si mesma. Os punhos fechados queriam socar o espelho, mas não havia forças naquele pequenino corpo, que mal a obedecia.

Ainda dopada de remédios, tentava colocar uma roupa naquele corpo frio. Como ficava trancafiada em casa não via a necessidade de vestir roupas, mas naquele dia usava sua velha camisola surrada. As janelas estavam sempre fechadas e protegidas por cortinas cinza escuro, as portas trancadas e o apartamento todo era escuro; iluminado o suficiente para que pudesse caminhar por lá.

Sozinha. Era assim que passava a maior parte de seu dia. Deitava no sofá e dormia, mesmo após ter acabado de acordar. Ficara a noite inteira acordada, mais uma vez, a fim de corrigir textos do novo livro que iria sair dali duas semanas. Mesmo que a editora não estipulasse um horário para quem trabalhava em casa, YongSun sabia que seus chefes gostavam que ela trabalhasse pela manhã e tarde, para que pudessem contrata-la quando fosse preciso. Mas a garota gostava de trabalhar pela madrugada toda, das onze da noite até às seis da manhã. Enquanto amanhecia lá fora, ela fechava os olhos e deitava em sua cama.

Quando acordava aproveitava para deixar a casa em ordem, o que não era difícil, pois não havia bagunça, não havia tantos móveis, ela não precisava de tantas coisas, e o dinheiro muitas vezes não lhe permitia que, por exemplo, trocasse a mobília. As roupas eram sempre as mesmas, as peças eram doadas para alguma instituição de caridade após um longo uso, e ai aproveitava para sair e fazer compras, o que era bem rápido.

As compras de casa eram feitas a cada duas semanas, mas não era necessário sair e escolher os produtos, Byul era que fazia as compras para a amiga. YongSun não tinha ninguém, estava longe da família, e não sabia como fazer amigos, na verdade ela não sabia lidar com as pessoas, por conta de sua agorafobia. Por sorte conseguira um trabalho que a deixava ficar em casa, trabalhando confortavelmente, longe de tudo e de todos.

Três batidas na porta. Era assim que Byul anunciava sua chegada. YongSun vagarosamente andou até a porta e a destrancou. Assim que aberta, Byul abriu um sorriso, denunciando a felicidade por ver a amiga. YongSun também sorria, não com os lábios rasgados como da outra, mas timidamente, bufando pelas narinas, denunciando a vergonha.

- Solar-unnie! – a loira avançava com seus longos braços para acalentar a menor a sua frente – Senti sua falta.

Afogada com os cabelos da maior, Solar ajeitava-se no peitoral da outra, aninhando naquele corpo magro para receber o afago de sua amiga. Fechou os olhos por um instante e agradeceu mentalmente pela visita, já estava ficando sem papel higiênico.

- Moon-saeng – disse entre a cabeleira – Não faz tanto tempo assim.

- Mas eu senti tanto sua falta – apertou mais forte o corpinho contra o seu – Tanta... Tanta... Tanta saudades!

Solar aos poucos se soltou dos braços da amiga e afastou-se. Pegou as sacolas de compra e pôs sobre a mesa, e começou a guardar os itens nos armários e geladeira. Byul fechou a porta e encostou-se à mesma, observando a amiga que rapidamente guardava as coisas.

- Solar... – disse alegremente – O dia está bem bonito lá fora... Quer sair?

- Tenho muito trabalho – respondeu sem olhar para a amiga – Não posso ir...

- Sei que você está bem adiantada neste projeto, eu já li algumas coisas, lembra? – aproximou-se da mesa – Vamos sair um pouquinho – disse tocando na mãozinha de Solar.

EstilhaçoWhere stories live. Discover now