Capítulo 5

456 48 10
                                    

- Podemos ir, por favor? – questionou Miles, já exasperado com a demora de Jake.

Jake era o meu melhor amigo, sim, mas naquele momento, Miles era o meu preferido dos dois. Desde que Jake soubera o sentido da palavra aparência e da importância que desempenhava na nossa sociedade que gastava, no mínimo, meia hora em si próprio antes de irmos a algum lado. Eu diria que para o sítio onde iríamos era um pouco inútil, porque todo o perfume que ele colocasse na sua pele e tudo o que fizesse ao cabelo iria perder o efeito assim que entrássemos no bar mais conhecido da cidade, cheio de gente a suar e com cheiro forte a tabaco. No entanto, nada do que eu ou o seu namorado disséssemos iria ser argumento suficiente para o afastar da tarefa em questão.

Eu próprio também demorava mais tempo do que gostava de admitir a preparar-me para quando saía à noite, mas nunca como Jake. Miles havia definido os limites da sua paciência para a meia hora de espera no sofá, e eu já o esperava há pelo menos vinte minutos, mesmo demorando tanto como eu demorava. Se estivesse no lugar de Miles, já tinha ido arrombar a porta do meu namorado e obrigá-lo a sair da frente do espelho. Mas, apesar de tudo, Jake era teimoso e sentir-se bem com a sua aparência fazia-o feliz, portanto nenhum de nós se atreveu a levantar dos nossos confortáveis lugares para causar uma discussão.

Perto de dez minutos depois, e de eu já ter ido beber uma cerveja para passar o tempo, Jake saiu do quarto. Era óbvio que ele estava muito melhor que eu e até que Miles, e também era óbvio que ele o sabia. No entanto, limitei-me a revirar os olhos e a levantar-me do sofá, brincando com as chaves do meu carro. Miles iria conduzir, porque ele no dia seguinte iria visitar os pais, então não queria beber e sofrer de ressaca. Atirei-lhe as minhas chaves e, automaticamente, fui para o banco de trás, nem me preocupando em ponderar sentar-me no lugar do passageiro. Coloquei o cinto e estiquei as pernas até à outra ponta do carro, sorrindo com o espaço todo guardado para mim.

Miles estacionou no parque de estacionamento mais perto do bar, que era a uns cinco minutos a pé do edifício. Eu não me importava de andar, nenhum de nós importava, e a caminhada foi silenciosa excetuando as conversas baixas e ocasionais entre o casal. No bar, iria encontrar-me com Rhys, um colega de turma que me prometeu pagar-me uma rodada depois de ambos termos passado na nossa última frequência e eu o ter ajudado um pouco. Era uma ocorrência bastante comum, colegas pedirem-me ajuda em troca de bebidas, e era algo que eu não me importava de fazer. Quando chegava a casa com a minha carteira quase intacta, era satisfatório, até.

- Miller, vieste! Uma música e já te pago a tal rodada, está bem? Tenho uma rapariga com quem dançar. – piscou-me o olho e eu limitei-me a assentir, colocando a minha mão no seu ombro como desejo de boa sorte.

Caminhei, juntamente com Miles e Jake, até ao balcão, onde limitei-me a pedir o mesmo que eles. Na verdade, não gostava de maior parte das bebidas que eles preferiam, mas não era por causa do sabor. Grande parte delas vinham com palhinhas ou em copos demasiado altos e pequenos e eu não gostava de beber a partir de nenhuma das coisas, era uma sorte conseguir beber cerveja das garrafas. O meu olhar atravessou todo o bar, desde as mesas à pista de dança, até ao outro aglomerado de mesas. Mesmo antes de voltar a olhar para os meus amigos, o meu olhar encontrou outro. Vi a rapariga, aparentemente loira, num grupo de raparigas com vestidos do mesmo estilo do seu. Bebi mais um pouco da minha bebida, apreciando a quantidade perfeita de amargura que fornecia, e sorri discretamente para ela.

Vi-a a levantar-se e, também para me afastar finalmente do meu casal de amigos, andei até ela, encontrando-a a meio caminho. A primeira coisa que ela fez surpreendeu-me, ao pegar na minha bebida e a provar um pouco, sem sequer falar comigo. Fechou os olhos ao provar a substância e sorriu, abrindo de novo os seus olhos. Apesar das luzes ofuscantes do bar, consegui perceber que eram azuis. Noutra vida, eu teria adorado a combinação cabelo-loiro-olhos-azuis mas, naquele momento, apanhei-me a desejar que as suas íris fossem um pouco mais escuras. Ignorando a sensação que esse desejo íntimo despertava em mim, coloquei um braço na cintura da rapariga e puxei-a para mim.

Cair e LevantarOnde histórias criam vida. Descubra agora