6 de janeiro,sábado, 11:52 a.m.
Saio da livraria ás 11:37, correndo, basicamente. Não quero (nem posso) chegar antes do meio - dia em casa. Meu pai está lá hoje.
Passo por uma padaria no caminho de casa. O cheiro dos bolos me fazem querer entrar, mas não tenho tempo e vejo que algumas pessoas do meu colégio estão lá dentro. Apesar de estarmos de férias, não quero ver a cara de nenhum deles. Então continuo andando.
Me esbarro em alguma menina perto da minha rua, não me importo em saber quem foi e peço perdão rapidamente. Sinto o olhar dela sobre mim e me sinto desconfortável, mas... foi bom, não sei porquê.
Estou na porta, decidindo se entro ou não ao escutar gritos de dentro do apartamento. Gritos? São gritos? São palavras de frustação e medo sendo exclamadas um pouco altas demais (tanto que os vizinhos podem escutar).
Nunca sei o que fazer nessas situações, que são relativamente frequentes. Ah, por que relativamente? Só acontecem quando meu pai está em casa, e não, não é sempre. E também não posso negar que é a todo momento. Alguns dias posso ter paz lá dentro.
Mas o que acontece de tão ruim? Ora, que besteira. Você já sabe o que acontece entre aquelas paredes. Sabe exatamente, mas tem... vergonha?... de admitir. Ou não é vergonha? É medo. Se você mesmo não sabe, como eu posso saber?
Algumas semanas atrás, ali mesmo, naquela casa, houve outra briga. Meu pai gritou e minha mãe sofreu calada, usualmente. Eu me tranquei no quarto e chorei. Chorei até parar de ouvir coisas quebrando (inclusive corações). Chorei pela minha mãe, por mim... e pelo meu pai, de algum jeito. Minha família ficou sabendo, eu não aguentei minha boca que não fecha um segundo e, é claro, meu pai não gostou disso.
São 11:53 agora. Tiro meus fones sem prestar atenção na música (acredito que estava tocando Sexy Sadie, se quiser saber). Minhas mãos estão um pouco suadas, então meus anéis giram nos meus dedos. Não seja estúpida, entre logo. Então, tento abrir a porta, mas as chaves caem das minhas mãos. Pego - as rápido de cima do capacho escrito "Bem - vindo" em letras estranhas.
1)Coloco a chave na fechadura e destranco a porta.
Não sou aquele tipo de pessoa muito corajosa. Poucas vezes na minha vida, eu enfrentei as coisas, os meus medos, as pessoas que eu temia, ou, até mesmo, as pessoas que eu amava. Tive receio de estragar a vida delas. O que uma garota estranha que fala consigo mesmo tem a oferecer, não é? Enfim, eu não tive, muitas vezes, a coragem de parar uma briga dos meus pais, ou de outras pessoas. O irônico é que, em várias das sagas que eu tanto amo ler, eu escolho o grupo de pessoas que são destemidas e audaciosas (como o próprio nome diz, em Divergente), mas nem sempre, claro.
2)Seguro a maçaneta e giro-a.
Não tenho muitos amigos, não. Alguns conhecidos mais próximos, talvez. Os meus amigos estão todos dentro da minha cabeça, falando comigo a toda hora. Eles me dizem o que fazer, o que não fazer. O que dizer, o que não dizer. E, na maioria das vezes, eu fico tão aterrorizada que não faço ou digo nada. Me escondo ou saio correndo. Mas mesmo assim, ainda gosto muito deles. Eles me fazem companhia nos momentos mais solitários da minha vida (curta vida, ainda).
3)Empurro a porta e abro-a.
Ah, quer saber que tipo de pessoa eu sou? Ou não liga para isso? Não importa, vou dizer mesmo assim. Sou sonhadora. Sou esse tipo, que sempre acha que as coisas vão ficar melhores, que vai achar felicidade em algum momento, que adora pensar nas coisas que o mundo sequer imagina, que ama pensar no futuro que pode ter... ou não. Acho que a quantidade de livros que eu "devoro" me ajudam a pensar dessa forma. Você não acha?
4)Vejo, por alguns segundos, minha mãe chorando do meu lado e meu pai com algo nas mãos.
- Mas que merda é essa? - diz o meu pai.
Meu pai, em algumas de suas brigas, se tornava tão agressivo que chegava ao ponto de quebrar as coisas. Não sou nenhuma psicóloga, mas eu acho que isso é para nos fazer ter medo dele, ou algo assim. Eu sempre achei melhor ser respeitada do que ser temida (talvez seja por isso que não sou da Sonserina), mas nunca fui nenhum dos dois.
5)Recebo uma estátua da Bastet, uma das deusas gregas, na minha cara.
***
Acordo em um lugar estranho. Com uma primeira olhada, penso que estou morta e fui para o Céu, mas não acho que seja realmente possível. Então, olho novamente e percebo que estou em uma cama de hospital.
Não sei bem que horas são. Procuro o relógio no pulso e não o acho (aparentemente, retiraram todos os meus anéis e pulseiras), então olho em volta tentando achar algo que me diga a quanto tempo estou aqui. Um relógio esquisito me diz que são 02:24 p.m.
As unícas coisas que me lembro são de algo bater em mim e cair no chão.
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Pai
General Fictionuma garota não tão normal, com um pai um pouco normal demais. baseado em fatos reais.