Capítulo 20

3K 373 425
                                    

Eu me arrastei até a casa do Maikon, colidindo com as pessoas e tropeçando em tudo, sem conseguir me concentrar em nada.

Como assim, um ômega? Papai Dylan me criou como um alfa, e eu aguardei o dia em que plantaria minha semente no Maikon. Ao invés disso... Ah, meu Deus. A semente seria plantada em mim.

Eu cobri a boca com as mãos, atordoado pela náusea. Nunca se ouviu de um humano engravidar um tritão. Sem bebês não havia predestinação, e sem predestinação... eu...

Um carro freiou bem diante de mim, e só então notei que eu atravessava a rua sem olhar pros lados. Eu reconheci o idiota atrás do volante, e ele também me reconheceu porque estacionou e desceu do carro.

"Hian, cara, tá tudo bem?" Shane me segurou pelos ombros, e eu mirei o olhar nele sem conseguir focar em nada.

"O que você quer?" Perguntei, sem conseguir sentir nada por dentro, e ao mesmo tempo aquecendo esquisito pelo atrito das roupas no corpo.

"Ah, cara... tá assim por causa de ontem?" Ele franziu a testa. "Escuta, não fica de cara comigo. Tem um motivo pra eu me aproximar do Maikon."

"Porque você quer morrer?"

"Eu não deveria contar isso ainda..." Ele suspirou, me olhando nos olhos. "Ouvi minha mãe e o Alisson conversando... acho que eu e o Maikon vamos ser irmãos."

"Shane, não estou num bom momento. Ainda mais para falar sobre o Maikon." Falei, esfregando o cabelo que nem penteei naquela manhã.

"Espero ser seu amigo, também. Eu nunca tive irmãos, cara. Tô preparando o terreno pra contar ao Maikon."

"Fala o nome dele de novo, e eu vou te rasgar ao meio." Ronsei, começando a sentir o descontrole da minha forma feral. "Ele é meu, ouviu? Ele nasceu pra ser meu, ele..."

Eu comecei a soluçar do nada, e o choro surgiu com tanta força que nenhuma palavra saiu. Eu dobrei o corpo com o rosto nas mãos, chorando cada vez mais pesado.

"Ah, cara, eu tô tentando entender vocês." Shane apoiou as mãos nos meus ombros, o que não era conforto nenhum. "Precisa de um copo d'água? Conversar? Qualquer coisa?"

"Me leva pra casa do Maikon." Solucei.

"Quê? Como assim, cara? A gente tá na frente da casa." Ele apontou para o lado, e eu percebi que era verdade. Ele apenas havia tirado o carro da garagem. "Vou sair com meu pai e o Alisson para comprar vidros novos. Você vai ficar bem?"

Eu concordei, secando meu rosto na manga da camisa.

Tio Alisson e o Doutor apareceram no jardim. O Doutor quase saltitava, de mãos dadas com o tio Alisson.

"Podemos comprar vidros fumê para o banheiro, e vidraças duplas para o nosso quarto, daí a vizinhança não..." Ele tagarelava, com um sorrisão gigante. Tio Alisson não parecia tão animado.

"Não tenho grana pra essas coisas, Michel. Vamos apenas repor as janelas quebradas e... espera, onde eu vou sentar?" Perguntou o tio Alisson, ao notar os dois únicos bancos do Porsche.

"Como assim, onde? No banco do acompanhante." Michel o abraçou de lado, quase se pendurando nele. "E eu vou no seu colo."

"Não me parece muito seguro." Tio Alisson segurou uma risadinha, e só então os dois me viram. "Hian, o que faz aqui tão cedo?"

"Ahm... visitar?" Falei, forçando um sorriso torto.

"Seis e meia da manhã?" Tio Alisson arqueou a sobrancelha. "O Maikon está malhando, agora. Tenta impedir ele de destruir o resto da casa."

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora