Capítulo 11

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Dois dias depois, quinta feira, Declan tinha decidido com a nossa avó que eu o levaria até lá, porque ela também me queria ver, no próximo sábado. A minha avó assumiu como seu papel principal cuidar dele como se fosse nossa mãe, algo por que eu fiquei incrivelmente agradecido, porque nunca perdoaria os meus pais se o Declan fosse também prejudicado no contexto escolar. Naquele dia, ele tinha decidido ir passear com o Jake e uma colega dele, a um parque qualquer, enquanto eu fui até casa da Mia para a ajudar a fazer um trabalho.

Foi Ava que me abriu a porta, com um sorriso educado, confirmando a minha ideia inicial de que elas viviam juntas. Enquanto Mia estava na casa de banho, a sua irmã gémea explicou-me que eram de longe, então os seus pais tinham preferido comprar-lhes um apartamento. Assenti, compreendendo a lógica, porque eu e Jake tínhamos feito exatamente o mesmo. Guardámos dinheiro durante anos, trabalhando durante as aulas e durante as férias, porque sempre esteve nos nossos planos morarmos juntos. Depois de Jake contar finalmente à sua mãe que era homossexual, percebemos que tinha sido o correto porque, por dois meses, receámos que ela não cumprisse a sua parte do acordo, que era dar o dinheiro que faltava da metade do Jake. No entanto, ela cumpriu e conseguimos comprar o apartamento sem muitos problemas.

- Olá! – virei-me para trás, ao ouvir o som da voz entusiasmada de Mia. Beijei a sua testa como cumprimento e ela sorriu-me, guiando-me até ao seu quarto, mal me dando tempo para me despedir da sua irmã.

- Nós vamos estudar, Mia. – avisei e ela riu, assentindo.

Obriguei-a a sentar-se à frente da sua secretária e, enquanto ela abria o seu habitual caderno das dúvidas, fui até ao outro lado do quarto buscar a cadeira que lá estava. Pousei-a ao seu lado e observei a forma como, lentamente, ela já se estava a distrair. Ficou a olhar para o caderno durante uns segundos, antes de se virar para mim. Revirei os olhos para a facilidade com que ela tinha em focar-se numa só tarefa quando implicava estudar, mas não a parei quando ela se aproximou de mim e deitou a cabeça no meu ombro. Sussurrei o seu nome, para despertar a sua atenção, mas senti-a a abanar a cabeça, antes de rodear a minha cintura com os seus braços e sentar-se nas minhas pernas.

- Como está o Deke?

- Grande parte das feridas já sararam, mas ele ainda está um pouco atordoado com tudo. Mia, temos que estudar.

- Não me apetece muito. – encolheu os ombros, olhando-me nos olhos.

- Eu sei que não, porque nunca te apetece. Mas tem que ser. – deslizei a minha mão pelas suas costas. – Depois, fazemos o que quiseres.

Com essa promessa no seu cérebro, ela sorriu-me e beijou-me suavemente, antes de voltar a sentar-se na sua cama. Abanei a cabeça, rindo, mas não comentei. Como de costume, agarrei no seu caderno e tentei decifrar a sua caligrafia, enquanto ela abria os seus livros e procurava todas as fotocópias que os nossos professores tinham pedido. Não que eu não estivesse à espera de demorar a conseguir esclarecer todas as suas dúvidas mas só duas horas e meia depois é que nós conseguimos fechar o caderno. Coloquei um cotovelo na sua secretária e deixei a minha cabeça cair na minha mão, puxando os meus cabelos.

- Desculpa. – olhei para ela, confuso. – Sempre que eu te peço para me ajudares, sais de perto de mim cansado. Eu sei que é por ser eu, porque se fosse outra pessoa que se focasse mais facilmente...

- Cala-te. – interrompi-a, revirando os meus olhos.

- Mas... - tapei os seus lábios com o meu dedo indicador, fazendo-a rir. – Pronto, eu calo-me.

- Obrigado.

- Tens fome? – assenti, embora tenha encolhido os ombros também. Ela riu um pouco, mas levantou-se da sua cadeira. – Está à vontade, eu vou buscar qualquer coisa para comermos.

Cair e LevantarOnde histórias criam vida. Descubra agora