Sabe quando você planeja ir à praia e mal consegue dormir de ansiedade? Assim eu descreveria o que Maria estava sentindo. Os dias estavam passando e parecia de forma lenta, e o resultado da prova ainda não havia chegado a sua casa. Frustração seria seu sentimento se ela não chegasse até a próxima semana. É claro que já havia passado do prazo de entrega, por isso toda aquela ansiedade, porém com um quê de esperança.
Era manhã quando Lethícia foi até a residência de Clara com um prato de brigadeiro. Na segunda batida na porta, Maria já segurava aquela maçaneta velha que abria uma porta bem pesada por sinal.
- Oi amiga, bom dia. Trouxe brigadeiro – Disse Lethícia ao chegar à casa de Maria. – Já viu o resultado da prova?
Lethícia arrastou seus pés no capacho e entrou já beijando o rosto de sua amiga.
- Ainda não. Na verdade, ainda não chegou pelo correio. – Maria fechou a porta e seguiu em direção à cozinha junto com ela.
- O meu resultado já chegou faz uma semana. Me arranja uma colher por favor?
- E você passou? – Perguntou Maria retirando a colher da primeira gaveta do velho armário preferido de sua mãe.
- Não. – Respondeu Lethícia se sentando em uma das cadeiras da cozinha.
- Sinto muito. – Maria parecia desapontada. Sua amiga sempre foi a aluna exemplar.
- Não precisam dizer isso. Estou feliz assim mesmo, só assim vou poder estudar naquela faculdade que tem aqui perto, por mais que seja lind. Coma um pouco – Respondeu Lethicia. Ela não parecia estar triste, mas quem fica triste comendo brigadeiro? Acho que ninguém.
- Você está feliz por poder ir para essa faculdade, ou porque vai estudar no mesmo lugar que Pierre? – Perguntou Maria. Com uma olhar desconfiado Maria colocava uma colher com brigadeiro na boca.
- Ah engraçadinha. Nem sabia que ele ia para lá, caso não passasse na prova, e você nem sabe se ele passou.
- Eu estava conversando com ele pela Internet esses dias, e ele disse que passou. Ele estava feliz. Não sei se é porque passou ou se ele está...
- Cala essa boca – Disse Lethícia a interrompendo. – Nem pense em dizer isso. Como achou ele na internet?
- Ahh, quer achar também é? Nem sei por que você ficou tão nervosa. – Falou Maria dando uma longa risada.
As duas passaram boa parte da manhã batendo boca sobre aquele assunto que eu chamaria de inconveniente.
Todo mundo passa por isso, eu sei, mas Lethícia já havia passado por uma situação que creio que ela não gostaria que eu falasse aqui, por ela ser mais reservada que Clara.
Logo depois, lá parar as 11:00 Lethícia pegou suas coisas foi para sua casa. Sua mãe já havia mandado mensagem avisando que o almoço estava pronto. E Maria, como não tinha mãe e praticamente não tinha pai também, foi preparam o seu almoço.
A menina descascava batatas como um chefe de cozinha. Ela já era bem experiente com tudo aquilo. Seu pai cozinhava também, mas já tinha uns 7 anos que ela havia começado a cozinhar. Hoje em dia quase não se vende mais aqueles fogões de 6 bocas, mas na casa de Clara tinha, e pode ter certeza que ela usava todas ao mesmo tempo.
Sabe quando você está lavando louça (muitos não sabem né, porque não lavam), e toca o telefone logo na hora que você está com a mão com sabão? Foi isso que aconteceu. Enquanto Maria estava com as mãos fora d'água nada aconteceu. Foi só colocar, para o telefone tocar.
Correndo para a sala ainda secando as mãos no pano de prato, Maria se sentou no sofá antes de atender ao telefone.
- Alô. – Maria.
- Oi filha. Como estão as coisas por ai? – Perguntou Mario ao telefone.
- Ah, é você? – Maria deu uma revirada de olhos e continuou - Desde quando se importa comigo?
- Desde sempre. Tenho que fazer a minha parte de pai.
- Ah, então só faz por obrigação? – Perguntou ela.
- Não. Faço por amor, mesmo que não pareça.
- E não parece mesmo. Se me amasse, marcava presença em casa. – Respondeu Maria.
- Você sabe o porquê que eu não paro em casa.
- Claro que sei. Você fica arrumando namoradinha por ai. Você sempre disse que amava a mamãe, e não perdeu tempo em sair para procurar outras.
- Mas amo. – Respondeu Mario.
- Então passe a demonstrar, e está tudo ótimo aqui em casa, sem você.
- Também te amo. – Disse o pai ao terminar a ligação.
Dava pra notar a tristeza na voz de Mario ao ver a forma que sua filha o tratava, e sentada no sofá, logo após desligar o telefone, Maria Clara chorou. De insatisfação, de tristeza, de raiva e de um amor que não admitia sentir.
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Em Memória
RandomComunicação não era lá uma das preferências de Maria Clara. Estabelecer amizades talvez também não. Era na suposta solidão que encontrava alguém de suma importância em sua vida, e com essa pessoa ela vivia e revivia cada lembrança de um passado dist...