Páprica, noz moscada e um cálice de O+

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A menina olhou a lista de supermercado uma vez mais e repassou os itens que tinham no carrinho: páprica, noz moscada, pão tipo baguette, queijo gruyère. Ao que parecia, ela estava bem satisfeita com suas compras. Não aparentava ter mais de dezoito anos, os cabelos encaracolados em pequenos cachos bem definidos, caíam ao lado do rosto arredondado, cuja pele cor de chocolate apresentava a textura de alguém que se importava com a própria aparência.

Parou por um instante em um corredor com bebidas e ajeitou o cabelo dentro do capuz. Pôs-se a olhar os rótulos de vinho com uma expressão de interesse, movendo os lábios, lendo em silêncio. Deu alguns passos em direção a um rapaz de sua idade; possuía uma cabeleira castanho avermelhado, e por diversas vezes tinha que tirar a franja dos olhos para que pudesse ler o rótulo dos destilados que tinha interesse.

Esticou-se para pegar uma garrafa em uma prateleira alta. O rapaz, por sua vez, com alguns centímetros a mais, levantou o braço e pegou-a. Sua voz era sonora na entonação certa para ela.

— É esta?

— Pode ser a do lado? — Sorriu a menina. Os olhos do rapaz eram claros. — Esta mesma.

Agradeceu após pegar a garrafa das mãos fortes. O rótulo dizia ser da safra de 2009, era de uma vinícola cara. Para ela era apenas vinho; não conhecia tanto a bebida. Mas fora instruída a comprar desta safra.

— Vou fazer um jantar para meu namorado... — Achou que devia uma satisfação. — Ele disse que queria me pedir em noivado... Estou tão ansiosa!

— Nossa, que legal! Parabéns. — Respondeu.

— Aceita minha ajuda? — Notou garrafa de vodca com um rótulo azul e letras prateadas em suas mãos. — Eu levaria aquela dali, — apontou para uma garrafa azulada em formato cilíndrico. — Tem um sabor mais marcante... Segundo dizem.

O sujeito olhou o preço no leitor há alguns passos dele e arregalou os olhos.

— Meio caro...

A garota pegou a caixa e passou no leitor, franzindo a testa com suavidade e pressionando os lábios, enquanto a tela verde mostrava o valor.

— Me dá aqui. Deixa que eu pago. Você me ajudou, hoje é um dia especial para mim. Deixe eu te fazer essa gentileza.

— Não precisa...

— Eu sei. Eu insisto. Pegou tudo o que você queria? — O rapaz fez que sim com a cabeça. — Ótimo. Vamos para o caixa.

— Sério isso? — Perguntou incrédulo vendo-a e juntar a garrafa a suas compras.

— Claro! Se você vai comemorar algo com alguém especial, tem que ter uma bebida a altura. É isso que minha mãe sempre diz.

—Bem, não é exatamente uma comemoração... E não há alguém especial... — Riu. — Estou com alguns amigos acampando, estamos fazendo rafting... Você já fez?

—Que legal! — Descarregou as compras, o rapaz a ajudava. — Eu gostaria de ir... Mas minha mãe sempre disse que é perigoso. Ela é muito zelosa comigo.

— Não tem perigo algum... Usamos coletes salva-vidas, e os instrutores são bem treinados. — Entregou a caixa da vodca com relutância. — Só que a gente sai todo molhado!

Passada todas as compras, a garota olhou o preço na tela sobre o caixa e pagou com o cartão de crédito. Enquanto esperava, pegou seu celular, tocou algumas vezes na tela sensível, e, arregalando os olhos conforme lia, terminou largando o aparelho. Mordia os lábios em um visível sinal de esforço para não externar algum sentimento crescente. Enxugou o rosto, voltou a pegar o aparelho, e xingou baixinho.

Páprica, noz moscada e um cálice de O+.Onde histórias criam vida. Descubra agora