Bruna - Passava das quatro da tarde

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Passava das quatro horas da tarde quando Felipe veio se despedir de mim. Ele precisava treinar. Tinha compromissos contratuais. Fui deixá-lo na portaria do hospital. Era o mínimo que poderia fazer. Dei-lhe um grande abraço. Ele aproveitou a proximidade para perguntar:

─ É esse o cara?

─ Que cara? – Fingi não ter entendido.

─ O cara por quem você não admite estar apaixonada.

─ Mas eu admito estar apaixonada. Apaixonadérrima. Pelo meu namorado.

─ O jogador de futebol que ainda nem deu notícia? Ele sabe que você tem avó?

A sinceridade de Felipe doía. Fiquei calada. Não sabia praticamente nada sobre Altair. Não seria de se espantar que ele também não soubesse muita coisa sobre mim.

─ Olha, - Felipe continuou a falar – não gosto muito desse cara aí. Acho meio sonso. Meio come quieto. Mas ainda sou mais ele do que o jogador. Pronto. Falei. Agora deixa eu ir. – Mais um beijo no rosto. – Você vai ficar bem? – Fiz que sim com a cabeça.

Voltei para a sala de espera. Carlos Eduardo estava ao telefone. Problemas para resolver na empresa. Ensaio cancelado. A mãe exigente sem entender o que estava acontecendo de fato. Respondeu gentilmente a todos. Encarou uma solicitação de cada vez com firmeza. Tudo para estar comigo. Quando notou minha presença no corredor, despediu-se e desligou o telefone.

Depois das orações de Carlos Eduardo, estava tão esgotada que acabei pegando no sono no colo dele. Como o cavalheiro que é, ficou quieto por mais de uma hora. Certamente que os problemas o cercavam. Ele, no entanto, ficou inteiramente disponível para mim. Não pude deixar de perceber que ele esperou por esse instante em que eu me ausentei para fazer ligações. Disponibilidade total.

Carlos Eduardo era muito atencioso. E a sua gentileza era tão rara nas pessoas a quem eu estava acostumada, que suas atitudes aqueciam meu coração e me encantavam.

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora