Carlos Eduardo - Pouco depois das oito

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Pouco depois das oito da noite, o médico nos deu boas notícias. A avó de Bruna estava estável. Ainda não poderiam precisar as sequelas desse novo AVC, mas ela já apresentava um pequeno quadro de melhora.

─ Vamos para casa, Bruna? Você precisa descansar um pouco. - Perguntei com toda a gentileza do mundo. Mas a conhecer a peça, eu deveria logo ter exigido que ela fosse.

─ Pode ir, Kadu. Eu vou ficar.

─ De jeito nenhum. Você vai. Você precisa de um banho. Precisa comer. Precisa dormir.

─ Não tenho o menor interesse de ficar sozinha naquele apartamento... Vou ficar pensando mil besteiras. Prefiro ficar. Obrigada.

─ Bruna, você vai acabar ficando doente também. – Insisti. – Ficar aqui dias e noites vagando até a sua avó melhorar não trará benefício nenhum...

─ Isso quem decide sou eu.

Certamente, a notícia do médico a deixou bem melhor. Recuperara a teimosia

─ Deixa de ser teimosa, garota. – Falei agora com firmeza. – Você precisa descansar.

Eu a encarava. Engraçado. Olhando para ela ali, sem maquiagem, cabelo desarrumado, exausta. Eu me dei conta de que estava vendo a Bruna real. Não a artista de televisão.

E como ela era bonita. Como ela era inteira. Completa de fraquezas e qualidades. Ela era ao mesmo tempo uma escultura e uma menina valente de cabelo preso de qualquer jeito no alto da cabeça. Estava exaurida até a última gota e ainda assim encontrava forças para lutar, teimar e birrar. Senti vontade de rir.

─ Não adianta. Já falei que não vou para a minha casa.

─ Ok. – Tirei o telefone e disquei o número da mamãe. – Você não precisa ir para a sua casa vazia. Você vai para a minha.

─ Você não seria louco... – Acho que a peguei de surpresa. Não soube ao certo como reagir.

─ Alô? Mãe? Está tudo bem. A Bruna vai dormir aí em casa.

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora