─ Você está bem? – Ele me perguntava enquanto ajeitava as cobertas em torno de mim. Geralmente, eu iria fazer alguma reclamação, revidar os olhares atravessados da mãe dele durante o jantar ou tirar alguma vantagem da situação, mas estava tão cansada que simplesmente fiz que sim com a cabeça.
Eu estava deitada na cama dele. No quarto dele. Usando uma camiseta enorme. Banho tomado. Cabelo escorrido. Sem maquiagem. Sem máscaras. Só eu mesma. Bruna Gabrielly de Oliveira Drummond.
─ Tente dormir um pouco, está bem? – Carlos Eduardo se aproximou para me dar um beijo na testa como se eu fosse uma garotinha. Eu o puxei pela camisa. Provavelmente não esperava minha reação. Sua boca ficou a centímetros da minha. Respirávamos no mesmo ritmo.
─ Eu só queria agradecer. – Beijei sua bochecha. – Você está sendo muito legal comigo. – Eu o soltei e ele se afastou mais devagar do que pensei que faria.
─ Não tem de quê, Brunésima. – Forçou um sorriso enquanto seguia em direção à porta do quarto. Desligou a luz. – Boa noite.
─ Boa noite.
Fiquei ali deitada. Exausta. Sem um pingo de sono. Comparando minha vida com a dele. Eu, garota suburbana, só soube o que era ter um quarto quando eu mesma paguei por cada objeto dentro dele. Olhando para as estantes no quarto de Kadu, eu via uma vida completamente diferente. Fotos de criança. Medalhas e troféus de dança. Livros de Física. Sua coleção de historinhas japonesas.
Um jantar em família. Uns perguntando pelo dia dos outros. Saladinha, prato principal, suco e sobremesa. Tudo servido em travessas. Lá em casa, quando eu tinha algo parecido com uma família, cada um que chegava se servia nas panelas mesmo e ia comer em frente à televisão assistindo à novela. A pia acumulando louça para lavar sem que ninguém se oferecesse para o sacrifício.
Aqui, Kadu recolheu os pratos e os limpou para colocar na lava-louças sem que ninguém precisasse pedir. Enquanto isso, o pai dele me perguntava coisas sobre a televisão e seus artistas favoritos. Não eram muitos. Nenhum deles parecia ter muito tempo para a televisão. Mas demonstravam interesse genuíno para me deixar à vontade. Até a mãe dele, que não estava muito confortável com a minha presença, vez ou outra encontrava palavras gentis para engatar um assunto ao outro.
Carlos Eduardo era um cara de sorte. Tinha uma família estruturada. Um bom padrão de vida. Não precisava conquistar nada. Já tinha o mundo aos seus pés. E mais uma vez me dei conta de que não havia nada em comum entre nós.
Ele deveria estar certo mesmo. Eu confundi as coisas. Éramos apenas parceiros de um programa de televisão. Ou melhor, tínhamos sido. Pois a próxima apresentação seria a última. Nós dois nunca deveríamos ter nos envolvido. Ter nos misturado. Olhando para todos os cantos daquele quarto de criança protegida, agora era eu quem não queria mais essa aproximação.
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Por Onde Andei
Teen FictionNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...