Bruna - Bom dia

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─ Bom dia. – Ele me recebeu com um sorriso. Tentei acordar o mais cedo possível para não atrapalhar a rotina da casa, mas, quando cheguei na sala, ele já estava de uniforme, comendo iogurte e cereal no sofá enquanto analisava uns papéis.

─ Bom dia, Brunete. Dormiu bem? Está melhor?

─ Sim. Sim. Obrigada.

─ De nada. – Levantou-se, veio até mim e me conduziu à cozinha. – Venha, eu te acompanho no café da manhã.

─ Não vou comer nada. – Hesitei. Tanto pelas calorias quanto pela companhia da mãe de Kadu.

─ Claro que vai. – Simplesmente me empurrou numa cadeira, sentando-se ao meu lado. – A sugestão do chefe é um pão na chapa. Mariazinha ali é especialista em pão na chapa. – Apontou para a empregada e piscou o olho. A senhora retribuiu o gracejo com um sorriso. – Suco de laranja? – Perguntou já colocando o líquido no meu copo.

─ E seus pais? Já saíram? – Do jeito que acordavam cedo, era capaz de terem saído.

─ Não levantaram ainda. – Respondeu meio seco.

─ Algum problema, Kadu? – Desconfiei.

─ Nada. – Balançou a cabeça. Colocou iogurte na boca. Mastigou em silêncio. Sem maiores explicações. – Você quer que eu te deixe onde? Sua casa? Hospital? Vai à escola?

Eu estava pensando em ficar no hospital. Precisava de mais notícias da minha avó. Além disso, meu carro ficara estacionado lá. De acordo com o posicionamento dos médicos, eu precisaria lidar com toda a burocracia do Home Care para recebê-la em casa novamente. Mas nem cheguei a falar nada, pois o pai de Kadu entrara na cozinha.

─ Bom dia. – Disse de forma simpática.

─ Bom dia, pai.

─ Bom dia, senhor.

─ Dormiu bem? – Ele me perguntou.

─ Sim. Obrigada. Eu estava exausta.

─ Venha quando quiser, minha querida. Foi um prazer receber você. – Sorria e me olhava nos olhos, mas havia algo no ar. Era como se essas palavras fossem para Carlos Eduardo, que continuava tomando seu café olhando diretamente para o copo de iogurte.

─ Imagine. Não vou mais incomodar.

─ As amigas de meu filho nunca incomodam. São nossas amigas também.

Estávamos todos ali representando uma cena de propaganda de margarina. Eu, Kadu e seu pai. A diferença era que os dois eram péssimos atores. Inicialmente, pensei que estivéssemos em mais uma cena de machismo genuíno com um pai orgulhoso de seu filho e de suas conquistas amorosas. Logo, entretanto, fui me dando conta de que eu não era a protagonista desse enredo.

─ Carlos Eduardo, sua mãe quer conversar com você antes da sua saída. – Seu Vitório disse quando Kadu finalmente terminou o iogurte.

─ Ainda vou deixar Bruna. Vou acabar chegando atrasado. Falo com ela quando voltar.

─ Kadu...

─ Não adianta insistir, pai.

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora