- De certeza? – Mia questionou.
- Sim.
- De certeza, Asher? – revirei os olhos.
Aquele meu sábado de manhã começou com uma ida a casa de Mia. No dia anterior ela tinha-me obrigado a prometer que passaria por sua casa antes de conduzir até à dos meus pais. Definitivamente não estava pronto para lidar com eles, mas tinha que aproveitar que Declan e minha avó tinham decidido passear durante o fim de semana. Eu sabia que Mia queria que eu passasse lá para tentar ir comigo e deixei-a pensar que eu iria deixar que isso acontecesse apenas para ela ficar feliz. No entanto, não a estava a incluir nos meus planos porque não queria que ela conhecesse a minha família. De momento, eles não mereciam conhecer alguém tão bom para mim (e para o meu irmão) como a Mia.
Mas, como sempre, Mia conseguiu virar o meu plano do avesso. Quando cheguei, ela abriu-me a porta e puxou-me para o seu quarto, mostrando-me a sua cama cheia de livros e cadernos. Ela estava a tentar estudar sozinha e obviamente não estava a resultar, como nunca resultava. Mia só conseguia estudar quando alguém com uma paciência de santo – eu – a obrigava a focar-se. Percebi logo o que ela estava a fazer, mas não disse nada, limitando-me a suspirar e a ceder aos seus pedidos. Mia, no entanto, fez um ar de inocente e perguntou-me se eu tinha a certeza que a queria aturar antes de enfrentar os meus pais.
Daí a nossa conversa.
- Sim, Mia. De certeza. – garanti e o sorriso que recebi em troca foi o suficiente para me fazer relaxar.
Sentámo-nos no chão, em cima de almofadas, porque já tínhamos vindo a perceber que a secretária era pior para Mia. Só lá estudávamos quando ela estava certa de que queria estudar, o que não era o caso. Ela estava a usar o estudo como pretexto para adiar a minha visita aos meus pais e depois me convencer a ir comigo. Voltei a deixá-la fazer o que queria, porque seria pior para mim, a longo prazo, se não o fizesse. Assim sendo, coloquei-me confortável na pequena almofada e pedi-lhe para me dar o seu Caderno das Perguntas, o início das nossas sessões de estudo. Daquela vez, ela não tinha muitas dúvidas, mas eram os suficientes para gastarmos algumas horas naquilo, conhecendo Mia.
E assim foi. Ao tentar ajudar Mia a estudar e, de vez em quando, a repreendê-la por estar a distrair-se com tudo e com nada as horas passaram rapidamente e, sem que eu o percebesse, eram onze da manhã. Ela aproveitou isso para usar a necessidade de almoçar como desculpa, mas aí eu impus-me, alegando que podia parar num restaurante de fastfood qualquer e comprar algo para comer durante a viagem. Notei, pela maneira como ela cruzou os braços e olhou para mim com sobrancelhas juntas, que ela estava só preocupada, portanto a minha prioridade naquele momento foi tentar descansá-la. Eu não ia matar ninguém. Já tinha passado tempo suficiente para eu conseguir manter uma conversa com os meus pais.
Tinham passado cinco meses. Cinco. Segundo a minha avó, os meus pais ligavam a cada duas semanas – porque ela os proibiu de ligar mais frequentemente que isso – e tentavam saber tudo o que conseguiam sobre Declan. Ela afirmara que eles, sim, estavam preocupados com Deke, mas não o suficiente para o aceitarem completamente. Isso partira o coração do meu irmão mais novo, daí termos-lhe escondido todas as tentativas de comunicação que os nossos pais tentaram fazer depois do primeiro mês. Não sabia lidar com aquela situação e, se a minha avó não fosse tão boa pessoa e eu tivesse que criar o meu irmão mais novo...não sabia o que poderia acontecer.
- Eu vou contigo, então. – Mia interrompeu os meus pensamentos ao afirmar, numa voz forte. Levantei uma sobrancelha, cruzando os braços. – Eu sei que disseste que não querias que eu fosse, mas eu quero ir.
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Cair e Levantar
Ficción GeneralAsher era um rapaz simples: gostava de chá, de ter boas notas e de não perder a sua paciência. Mia era igualmente simples: gostava de ouvir músicas pop, de cantar músicas pop e, principalmente, de irritar Asher enquanto o fazia. All Rights Reserved...