O Seminário

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O quarto do seminário era sempre escuro, não importava quantas lâmpadas estivessem ligadas, ou janelas estivessem abertas, não havia luz naquele quarto, muito menos em mim.

Estava chovendo naquela tarde, e como sempre eu estava na janela observando o pátio, mais precisamente, o Enzo.
Aquele cabelo cacheado jogado por cima dos olhos, o suéter por cima da camisa amassada e aquele sorriso, ah, aquele sorriso.

Eu estava na mesma classe de Latim que ele. Sempre me sentava no fundo, em um canto e ele na frente, do lado da janela. Nas manhãs quando os raios de sol entravam pela janela e o iluminavam ele parecia um anjo, por mais clichê que isso possa soar, era maravilhoso.
Eu estava com a cabeça nas nuvens agora, sabe quando parece que você está dormindo e seus olhos vão parar em algum lugar aleatório sem que você nem perceba? Esse era eu agora, sem a menor noção do que estava acontecendo à minha volta. Quando "acordei" num susto percebi que estava olhando pro Enzo, e acho que não foi por pouco tempo, porque ele estava olhando pra mim com uma cara muito estranha, acho que ele queria rir mas estava com vergonha, ou deve ter achado que eu sou louco mesmo. Tenho certeza que minha cara ficou igual a um pimentão quando percebi que ele estava me olhando, porque ai sim ele começou a rir, mas era um riso tão fofo, eu comecei a rir junto de nervoso, meu Deus ele me notou, eu não conseguia mais parar de rir e ele também. Até que então eu percebi que a sala toda estava em silêncio e o professor que estava escrevendo no quadro olhou pra trás e mandou-nos para fora, com a cara mais séria que eu já vi na vida. Todos ficaram pasmos, porque mesmo que ninguém aqui fosse santo e fizessem varias "merdas", eles tinham muito respeito dentro das salas de aula e quando alguém saia era sério. Não achei necessário, afinal só estávamos rindo, esse professor estava louco.

Mas enfim, aqui estávamos nos dois sentados no banco fora da sala esperando pelo professor, eu olho pra ele e começamos a rir de novo, porque aquilo foi tão engraçado afinal?
O professor chegou, e começou a fazer aquele sermão sobre respeito e blablabla. Eu simplesmente concordei e disse que ia repensar sobre o que fiz e Enzo fez o mesmo. Mas então é claro que não podia faltar a punição, nós dois teríamos que limpar toda a igreja do seminário todas as noites por uma semana, começando amanhã. Eu fiquei incrédulo mas só concordei novamente e então o professor nos liberou e cada um seguiu seu caminho.

No momento nem me dei conta, mas mesmo tendo que limpar a igreja, o que não era fácil, eu poderia ficar com Enzo durante todo esse tempo, sozinhos. Parece que esse Deus existe mesmo hein.

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⏰ Última atualização: Nov 02, 2017 ⏰

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