Valentina.
Eu precisava conversar com Valentina. Esse foi o primeiro nome que passou pela minha cabeça enquanto eu saí correndo da casa de Gustavo com a sensação clichê de que o mundo estava desabando sobre mim.Não sei como, talvez tenha sido a adrenalina da situação ou algo parecido, mas, quando dei por mim, já estava lá: parada em frente a casa da minha melhor amiga. Ela era branca, com umas flores cor de rosa no jardim - nunca fui muito boa em identificar o nome das flores - e um vento calmante. A casa de Valentina me trazia paz, assim como ela.
Toquei a campainha torcendo para que ela ainda estivesse acordada, na pressa acabei esquecendo de ligar para avisar que estava indo.
- Isa! O que houve? Tá com uma cara esquisita. - era a Vitória, a irmã mais velha da Val, que me olhava com uma expressão assustada, de cima a baixo, os olhos azuis arregalados, tentando decifrar o que quer que tivesse me levado até lá.
- Não foi nada, coisa da escola. A Valentina tá acordada? Preciso muito falar com ela.
- Se você diz... sim, tá sim, pode entrar. - ela me puxou para dentro da casa, sem passar muita confiança no que tinha acabado de escutar.
Subi as escadas em direção ao quarto da Val, ignorando alguma coisa dita pela Vitória que eu não consegui entender, o que geralmente acabava comigo, - tendo em vista o meu péssimo hábito de não praticar exercícios - mas naquela hora nada mais parecia me abalar muito. O fato de perder o meu namoro de dois anos já era o suficiente.
Bati na porta, ofegante, torcendo para que ela abrisse logo.
- Isabela! - a porta se abriu bem rápido e fui engolida pelo abraço perfeito que só a Valentina sabia dar.
Entrei no quarto, o quarto que, de tão intimo, já era como se fosse meu. O papel de parede com imagens de Londres, a cama aconchegante, a escrivaninha branca cheia de cadernos - Val sempre gostou de escrever - era tudo como sempre foi.
Valentina e eu somos amigas desde... desde sempre, eu acho. É porque eu não consigo lembrar de como era minha vida antes da nossa amizade, sabe? Ela sempre esteve lá pra mim e eu sempre estive lá para ela. Dormindo uma na casa da outra, festas do pijama. Ela foi a primeira a saber da minha paixonite pelo Gus e eu sempre fui a primeira pessoa a ler os textos dela. Tipo a cobaia mesmo.
- Você não sabe o que aconteceu, eu preciso te contar tudo - as palavras saiam correndo pela minha boca - Acabou tudo, tudo, acabou tudo!!
- Calma, garota! - ela gritou - Explica tudo com calma, eu não consigo entender assim.
- O Gustavo vai se mudar pra um país na Ásia, do outro lado do mundo. E pra piorar ele nem me contou nada, descobri porque o pai dele abriu a boca sem querer.
E, quando percebi, as lágrimas já estavam escapando pelos meus olhos. Era uma sensação desconhecida, que eu preferia que tivesse permanecido desconhecida. Porque doía. Muito. E era horrível.
***
O dia amanheceu e eu nem sequer dormi direito. Acordei na casa da Valentina, avisei aos meus pais que dormiria lá e, que bom que o fiz, porque meus olhos estavam do tamanho de dois pães de hambúrguer, inchados, depois de uma noite toda chorando e sendo consolada pela minha amiga.
Fui acordada pelo barulho do meu celular, era uma mensagem de Gustavo.
"Isa, você saiu tão rápido ontem. Não me deixou explicar, pedir desculpas. Eu devia ter te contado antes, não tive coragem, foi isso. Viajo amanhã e queria te ver antes. Faz isso por nós?"
Não, eu não faria nada por nós. O nós já não existia mais.
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Você, de novo!
RomanceIsabela e Gustavo namoraram quando tinham apenas dezessete anos, até Gus precisar se mudar para outro país por conta do trabalho de seu pai como diplomata. Durante a viagem, Gustavo sofre um acidente e perde a memória, Isabela não recebe notícias. A...