Capítulo Nove

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Caio me olhava com um misto de confusão e alívio. 

E então ele sorriu.

Aquele sorriso!

Segui em sua direção e me sentei ao seu lado, apoiando meus cotovelos em minhas pernas e encarando a caixa de fotos a minha frente.

- Eu...- Comecei a falar.- Sinto muito!- Falei por fim.

- Pelo quê?- Indagou. Eu não  precisei olhar para ele, para saber que estava sendo observada.

- Por tudo, não tenho sido uma boa esposa pra você, e não fui antes do acidente. - Falei sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. 

- Você se lembrou?- Perguntou ainda me olhando.

- Mais ou menos... quer dizer, não lembrei de tudo.- Falei tentando não desabar em lágrimas. 

- E isso é ruim?- Falou confuso.

- Caio,- O encarei.- Eu te traía, descobri hoje que eu nunca dei valor ao nosso casamento.- Falei permitindo que as lágrimas molhassem meu rosto.- Eu não mereço você.

Caio me olhou com os olhos marejados, mas não pareceu surpreso.

- Eu já sabia.- Falou calmo.- Descobri depois do acidente. Phill me contou na expectativa de que eu fosse te deixar.- Ele levantou e virou-se para o jardim, olhando para um ponto fixo, que com certeza o deixou relaxado por um momento.- E eu ia te deixar Regina. Voltei pra casa e arrumei minhas coisas, foi quando eu encontrei isso.- Estendeu um papel em minha direção.

- O que é isso?- Indaguei pegando o papel, que no ato, fez com que minha mão tocasse na dele. Um gesto bem clichê, mas que fez meu coração errar uma breve batida.

- Foi seu voto de casamento, as palavras que você disse para mim no altar.- Ele colocou a mão no bolso e me encarou com um meio sorriso.

Olhei o papel, incrivelmente conservado, em minhas mãos.

- Por um momento eu pensei que talvez, essas palavras não fossem verdade. Regina eu te odiei por um momento, quis seguir uma vida onde você não existisse. Mas eu não conseguir imaginar uma vida sem você.

Eu não sabia o que dizer, um misto de culpa e confusão se instalavam em mim.
Não conseguia olhar o homem a minha frente, não queria o encarar e ver seus olhos marejados.

- Eu fui uma péssima pessoa Caio.- Deixei que as lágrimas fizessem seu trajeto em meu rosto.- Eu sinto muito. 

Ele se aproximou de mim e me ajudou a ficar de pé. 

- Já te perdoei...- Ele secou minhas lágrimas.- À muito tempo!- Ele acariciou meu rosto com seu polegar, e eu estava gostando daquilo. Ele fez o contorno dos meus lábios antes de fazê-los ir de encontro com o seu em um beijo calmo.

As borboletas no estômago... elas estavam lá.
Minha cabeça estava sendo invadida por um turbilhão de pensamentos, mas nenhum me impulsionava a afasta-lo de mim.

[...]

Acordei com a luz do sol invadindo minha janela, o que dificultou um pouco a minha visão. Pisquei algumas vezes para então perceber que eu não estava na casa da mina mãe. 
O braço de alguém envolvia minha cintura, me virei e vi o Caio deitado ao meu lado.

Seu rosto estava tão sereno, que eu não me importei em ficar o observando por um momento.
Lembranças da noite passada invadiam minha mente... então eu sorri. 

Eu poderia passar o resto da vida ali,  de alguma forma eu me sentia em casa, pela primeira vez desde que acordei

Caio abriu seus olhos sonolentos e me encarou por um momento. Os olhos castanhos mais lindos que eu já havia visto, me encaravam com muito amor naquele momento. 

- Bom dia.- Sua voz estava rouca por conta do sono, e pra ser sincera, acho que ninguém suportaria o hálito dele naquele momento.

- Caio?- Falei acariciando sua bochecha com meu polegar. Já não me parecia estranho a nossa proximidade.

- Pode falar.- Ele disse com os olhos fechados, apreciando meus carinhos.

- Pode me fazer um favor?

- Pra você eu faço qualquer coisa. Quer visitar uma das sete maravilhas?
Quer a lua? É só pedir.

- Na verdade, eu só queria que você fosse escovar os dentes.- Ele abriu os olhos e me encarou com um sorriso de canto.

- Tá tão insuportável assim?- Indagou me olhando com os olhos semicerrados.

Eu fiz uma careta e meneei a cabeça em afirmação.  Ele começou a rir, mas se levantou e caminhou em direção ao banheiro.

Eu me sentia bem naquele momento. Parecia que tudo estava se encaixando. Mas então eu fui invadida pelo medo de tudo acabar. Como naqueles filmes, onde tudo está indo bem, e de repente alguma catástrofe acontece.

Me sentei na cama e abracei minhas pernas, e fiquei submersa em meu pensamentos, lembrei-me do sonho que tive durante a noite.

***

- Uma cirurgiã tão incrível  quanto você deveria fazer algo melhor do que revisar prontuários.- Phil entrou no quarto vazio e sentou-se ao meu lado.

- Preciso terminar isso aqui logo, prometi ao Caio que estaria em casa essa noite.- Falei sem tirar minha atenção dos papéis em meu colo.

- E que tal fazermos algo muito melhor.- Ele começou a distribuir pequenos beijos pelos meus ombros.

- Como você consegue ser tão imparcial diante dessa situação? Sua mulher está na sua casa agora com seus dois filhos, te esperando e você aqui seduzindo uma mulher que também é casada.

- Olhe em meus olhos e diz que você também não me quer.- Me desafiou.

Levantei meus olhos e encarei o homem ao meu lado.

- Eu. Não. Te. Quero.- Falei pausadamente na esperança de que ele entendesse e saísse dali. Mas ele fez o contrário do que eu esperava.

Ele colocou a mão na minha nuca e me puxou para si,  iniciando um beijo urgente.

- Mande uma mensagem ao Caio. Você está de plantão hoje, temos um paciente para salvar.- Falou e saiu dali.

Olhei meu celular em cima de uma mesa, suspirei e o peguei digitando uma mensagem para o meu marido.

"Caio, sei que prometi está em casa essa noite, e você não imagina o quanto eu gostaria de estar. Acontece que houve um imprevisto e eu vou ter que ficar de plantão de novo.
Prometo te recompensar por sua compreensão. Bjs"

Cliquei no botão "enviar" e guardei meu telefone.
Caminhei até onde o Phil estava me esperando

Eu estava vendo meu casamento morrer aos poucos, tal como um paciente com câncer terminal, e ao invés de fazer algo para salvá-lo, eu apenas o observava definhar até a morte.

CONTINUA

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