Elle Evans

Quando o sol nascer

Meu nome é Elle Evans e eu não posso voltar no tempo. Eu não posso desfazer o que já fiz e nem posso mudar o que eu já disse. Minha vida é só mais uma longa lista de arrependimentos, mas isso não significa que eu também me arrependi de viver.

Alguns anos atrás, quando eu tinha apenas nove anos, eu estava sentada na beira da janela desse mesmo prédio em que moro hoje. A noite estava fria e sem estrelas, eu não conseguia enxergar nada além das casas e prédios que bloqueavam os últimos raios de sol.

Eu estava chorando, como sempre faço, e como um dia ainda me arrependerei de sempre fazer. Engraçado, eu não consigo me lembrar do motivo, mas eu lembro de que eu estava sozinha em meu quarto. Eu deveria estar chorando alto demais porque quando limpei as lágrimas de meu resto, eu vi um gato preto na janela. Seus olhos pareciam ter roubado as estrelas que deveriam estar no céu.

O gato estava apenas olhando para mim, mas sua presença me confortava. Eu não sabia o que um gato estava fazendo na janela do quarto andar, e, francamente, não me importava.

Quando estiquei a mão para lhe acariciar, o gato se esfregou em mim e eu o abracei, seu pelo era tão macio e fofo que parecia uma nuvem. Meus olhos ficaram pesados, e mais pesados, até que eu abri eles e já era manhã. Eu estava na minha cama, sem nenhum gato por perto.

Ninguém acreditou na minha história quando eu contei, pensavam que eu estava apenas sonhando, mas eu queria acreditar, eu tinha que acreditar.

Agora eu estou novamente chorando, porém hoje não há nenhum gato me observando pela janela, hoje eu sou a única sentada na beira da janela. E o sol pode até estar brilhando, mas eu me sinto na mesma noite escura de antes.

Minhas aulas começam amanhã e eu vou mudar de colégio. Não vou mentir, estou com medo. Eu não sei se vou conseguir manter contato com meus velhos amigos nem se vou conseguir fazer novos. Claro que já estou acostumado a ficar sozinha, mas seria ótimo ter alguém ao meu lado para variar.

Os mesmos prédios que eu vi naquele dia ainda estavam lá, parados, cinza como as ruas e as pessoas, e eles pareciam ainda mais monótonos do que de costume.

Ao menos eu poderia tentar recomeçar minha vida nesse colégio novo. Já que ninguém me conhece, ninguém poderá me julgar.

Sem ao menos notar, o sol já não era mais visível no céu. Mais outra vez ele se escondeu atrás da cidade... mas ele voltará, o sol sempre volta para me acordar de manhã e tirar de mim meus últimos momentos de doce desilusão.

Eu me deitei, mas não adormeci. Fiquei acordada pensando no dia seguinte, a ansiedade me manteve acordada.

Já era quase manhã quando finalmente me acalmei e consegui aproveitar minha mísera meia-hora de sono. Eu, no entanto, acordei mais cansada do que antes, um bom começo para o pior dia da minha vida, não acha?

Eu abri as cortinas da janela uma última vez antes de sair. Talvez eu ainda tinha esperança de que enquanto eu dormia algo mudou. Mas isso não aconteceu. O mundo continuava cinza.

Me virei com um suspiro e me apoiei na parede. Meu quarto era um espaço pequeno e desarrumado, roupas e lixo espalhados por todos os lados. A cama podia parecer confortável, e algum tempo atrás eu imagino que ela já foi, mas agora é dura como uma pedra. O lençol da cama estava parcialmente caído no chão do quarto, e uma de suas pernas foi substituída por uma pilha de livros velhos e empoeirados.