Uma missão quase impossível

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O terno preto, os sapatos sociais, o corte de cabelo moderno. Até mesmo os óculos, incrivelmente limpos e novos. Tudo mudou e, ao mesmo tempo, nada. O garoto que eu vejo no espelho hoje não tem absolutamente nada haver comigo.

— Tá demais, cara.

Arthur está deitado na minha cama. Não me lembro de um sequer dia da minha vida em que nós não estávamos lá, juntos, levando uma surra ou uma medalha do campeonato anual de matemática e física. Amigos desde sempre e, talvez, para sempre. A exclusão nos uniu e não separou mais.

— Você não vai ir? — perguntei, já sofrendo por antecedência, de entrar naquele lugar que parecia mais um ninho de cobras.

Anos e mais anos sendo sacaneado por um bando de adolescentes para, no fim, ir numa das principais festas do colégio. Que ironia, não?!

— O convidado foi você. E, além do mais, não tem mais ninguém que goste de mim naquele lugar. Quando você enfim conseguir conquistar a Isabella, não tô a fim de virar vela para vocês!

Chegamos no ponto principal: o motivo para eu ir naquele inferno. Isabella. O anjo em figura de gente, inteligente, linda, da nossa sala, que não dá a mínima para a minha existência. Depois de muito tempo apaixonado por ela, tentando de todos os artifícios possíveis para fazer com que ela virasse algo a mais, finalmente tomei coragem para uma mudança radical. Durante as férias que antecederam o segundo ano, mudei praticamente tudo em mim e voltei como o cara descolado, que anda com um smartphone ao invés de um exemplar do Senhor dos Anéis. Passei até mesmo a errar algumas coisinhas nas provas para parecer um aluno comum, contrário do CDF que fui desde o fundamental. Resultado? Cá estou eu, todo arrumado para uma das melhores resenhas do colégio.

Suspiro e encaro pela milésima vez meu visual.

Oito horas e trinta minutos. Meu tempo acabou. Game over, playboy fake.



Pela janela do carro, avisto o local. Número 728, Rua Columbia. O muro de cerca viva é alto e espesso, quase escondendo a portaria pintada de cinza escuro com um segurança a postos. Uma coisa básica sobre os adolescentes do meu colégio é que são todos podres de ricos. É claro, com uma mensalidade daquela e as viagens obrigatórias que cobram quase o preço de uma compra de uma casa, as pessoas tinham mais é que ser ricas mesmo (ou ganhar a belíssima bolsa cem por cento que eu e Arthur temos).

— Nome? — me pergunta o segurança.

— Thiago Bernardi.

Em seguida, os portões imensos se abrem e eu vejo a mansão pulsar com luzes coloridas e música eletrônica alta. As pessoas estão dentro, no meio da confusão, e fora, na beira da piscina, no quiosque e próximo de uma área gourmet. Respiro fundo e encarno meu eu descolado, que emite confiança até num simples andar. Meu plano inicial é ir para o bar, pegar um copo com uma bebida qualquer e ficar com ela nas mãos até encontrar Isabella. Quando encontrá-la, vou puxar um papo qualquer sobre a festa para ver se ela pelo menos aprende meu nome. Depois, penso num próximo passo.

— Eae, Thiago! Pensei que ia faltar logo nessa. — diz Gustavo, o dono da casa, o cara mais cool do Colégio Parker, o bambambã.

— Claro que não. — respondo e dou uma pequena bebericada no copo em minhas mãos, que tem um líquido rosa adocicado que exala muito mais que o permitido de álcool para um copo de 200 ml.

— Você já viu a Luísa? Cara, ela tá uma gata hoje naquele vestidinho rosa. — ele dá um gole grande no copo em suas mãos, de uma bebida alaranjada. — Ela não sai daqui sem antes conhecer o segundo andar.

O segundo andar da casa é o dos quartos. Preciso explicar mais?! Só percebo que demorei tempo demais para emitir alguma reação "típica de homem" quando Gustavo me dá um encontrão no ombro e segue a linha do meu olhar.

Colégio Parker - Uma missão quase impossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora