O Amor não salva

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Essa não é uma história de amor, mas de um cara com o coração fodido. Essa é a prova de que nem todas as histórias possuem finais felizes. Quero dizer, sua história pode ter um final feliz, mas a minha -certamente- não tem.

Eu vou escrever diretamente para uma pessoa, Oh Sehun. O dono da minha insanidade e todos os pedacinhos de meu coração. Mas se você pensa em colocar a culpa nele, espere. O errado dessa história sou eu.

A culpa é toda minha e de minha expectativa de merda. A gente sempre segue o coração pensando que vai ficar tudo bem e feliz, mas esse talvez seja o maior erro que cometemos. Se temos a porra de um cérebro é pra segui-lo, para raciocinar, e não outro órgão que é responsável por bombear sangue por nosso corpo e nos manter vivo.

A gente troca muito os significados e os significantes. É como se soubéssemos que estamos sendo burros, porém não conseguimos parar.

Esse lance de se apaixonar é algo grave e a OMS deveria considerar um caso de saúde pública.

*

Aos sete anos de idade eu tive uma crise de choro no parquinho do meu bairro. O meu pai teve a brilhante ideia de me deixar no alto de um escorregador e gritar lá de baixo.

"Escorrega, Jongdae! Eu estou aqui por você".

Ok que você está AÍ por mim, mas por que não está AQUI? Foi o que eu pensei. Não com essas palavras é claro, aliás, eu nem sei dizer o que pensei no momento, só sei que sentei na ponta do escorregador, me agarrei em um cano de metal que sustentava o brinquedo, e chorei.

Acho que naquele momento meu pai sentiu um arrependimento por escolher ter filhos, não era nem arrependimento por ter me colocado no escorregador mais alto do parquinho, mas por escolher ter filhos mesmo, porque eu estava fazendo um escândalo enorme só para descer na porcaria de um brinquedo de dois metros e meio.

Lembro que meu pai tapou a face com as duas mãos enormes e resmungou meu nome algumas vezes. Eu tinha os olhos tão marejados que mal conseguia deduzir se ele estava furioso ou se estava rindo da situação. Na verdade o foco nessa história não é meu pai.

Poucos segundos após a birra, um garoto com o cabelo mais ridículo do mundo apareceu atrás de mim. O cabelo dele parecia ter saído de um filme dos anos 80, e eu não exagero.

Primeiro ele olhou para mim e aguardou que eu descesse do escorregador, mas depois de um tempinho ele percebeu que eu era o maior manezao do parquinho e que não iria largar daquele barra de metal tão fácil.

"O que aconteceu? Você está se sentindo bem?" os olhinhos castanhos me encararam "Quer ajuda?".

"Eu tenho medo de descer" disse sem rodeios "Mas quero muito mostrar ao meu papai que sou corajoso".

O menino nada respondeu. Sentou no chão de madeira (que ligava ao escorregador) e arrastou-se até ficar atrás de mim. As pernas dele tentaram se encaixar nas minhas coxas e ele agarrou meus ombros. Olhei para ele e fiz uma careta e ele sorriu, mostrando as janelinhas que tinha em seu sorriso, pois dois dentes de cima estavam faltando.

"Eu sou corajoso, então vou descer junto com você para passar coragem".

Não deu nem tempo de resmungar. O garoto puxou meus braços do cano de metal e jogou todo seu corpo para baixo.

Durante a descida eu prometi para mim mesmo que não iria NUNCA mais usar aquele brinquedo, mas quando toquei meus tênis na areia eu mudei de ideia.

Meu pai, que havia observado toda a cena, bateu palmas para mim e em seguida estendeu a mão para me puxar.

"É para isso que os amigos servem" começou a dizer "Para dar apoio. Mas eu não conheço esse seu amigo" disse enquanto ajudava o garoto a se levantar "qual seu nome?".

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