Minha geração problema

Capítulo 34

  Era meio difícil na minha posição imaginar o que estava por vir. Dra. Cris apesar de ser bem clara conseguia manter um ar de misteriosa, o que no momento me perturbava muito. Afinal de contas, o que ela poderia querer falar comigo a sós? E porque eu sentia que era bomba?

_Ah não se preocupe, não é nada sério -palavras dela enquanto recolhia o resto do material- é só que...

  "É só que" era tipo o mas em "Não é nada importante, mas..." em resumo uma palavra que eu particulamemte odiava, minha mãe inclusive costuma dizer que quando uma pessoa usa o mas na frase, é como se tornasse todo o dito anterior em mentira. Talvez por isso meu coração estava na garganta, não tem outra explicação pra esse pavor todo que eu sentia no momento.

_Queria falar com você sobre Benjamin, -assenti com um pânico crescendo cada vez mais em mim. Minha situação atual era igual a de um namorado conhecendo o sogro bravo, ou seja, tenso- na verdade eu queria falar sobre vocês- pronto, agora a coisa complicou mesmo.

_Nós? -indaguei em um susurro, só faltei gaguejar

_Nós. Vocês. Olhe bem, não vamos fingir que eu não sei o que está acontecendo aqui -disse piscando em minha direção. E eu que tinha a esperança de conseguir fazer algo nessa clínica sem que ela soubesse- seremos claras e verdadeiras então não faz sentido dar uma de cega e dizer que não é com você.

_Tudo bem -concordei, até porque não havia outra opção- o que é exatamente que você quer falar?

_Bem, você sabe que Benjamin é meu irmão- assenti me lembrando da doce Ana das memórias dele, agora ela era a Cris já não tão doce- então vou falar com você de duas formas, como irmã e como médica.

  Duas formas, duas conversas sérias, duas chances de sofrer ainda mais.

_Como a psiquiatra responsável pelo caso de vocês eu quero destacar que estou atenta, não é  a primeira vez que isso acontece, na verdade é bem normal até. Os pacientes costumam se identificar com companheiros de terapia e um possível envolvimento é algo comum -ela colocou o último livro em cima da pilha em seus braços e se virou para mim- porém isso nem sempre é bom, alguns pacientes são digamos assim, perigosos.

Arqueei a sobrancelha confusa, na verdade perdida. O que ela queria dizer com perigosos? Era algo do tipo, você pode atacar meu irmão a qualquer momento?

_Desculpa, acho que me expressei mal -disse rindo da minha fisionomia nada usual- eu quero dizer que existem pacientes que já representam um perigo pra si mesmos, e quando se relacionam com outro que também possui algum problema as coisas podem, como dizer, sair do controle -completou em um suspiro

  Acho que entendi o que ela quis falar. É como se o distúrbio de um passasse a afetar o outro com o convívio. Mas o que isso tem a ver comigo e Benjamin?

_Você acha que eu posso passar minha fobia pra ele ou prejudicá-lo de alguma forma? -perguntei cautelosa

_Não, não é assim -Dra. Cris riu mais uma vez, eu tinha a impressão que ela estava literalmente rindo da minha cara- Fobia social não é transmitido ao contado, assim como síndrome do pânico também não. Eu só estou dizendo que como psiquiatra é importante que eu redobre a atenção nesses casos, duas pessoas instáveis podem fazer mais besteira que muitos casais. Porém não acredito que esse seja o caso de vocês.

  Tudo isso pra dizer que nós não temos nenhuma ligacão com essa lição de moral? Depois a doida sou eu, Dra. Cris quem tá precisando de tratamento.

_Você e Benjamin são mais tranquilos sabe, já apresentaram grande evolução nos seus quadros psiquiátricos. Sem falar que acredito que esse envolvimento faça bem pra ambos, vocês estão sempre tão fechados sentimentalmente que não se dão conta disso. Eu consigo ver pequenas mudanças desde que começaram com isso, o que eu sei já tem um tempo -um sorriso de lado despontou nos lábios desenhados da Dra. Cris- é aí que entra meu lado irmã. Como irmã estou feliz por vocês, principalmente por ele, é a primeira vez que vejo o Ben assim, todo apaixonado, e é tão bom vê-lo feliz que eu me sinto feliz também. Obrigada.