Minha mãe me ligou três ou quatro vezes pela manhã. Não atendi. Não queria conversar. Estava muito cansado de fazer tudo que me pediam sem sequer reclamar. Dona Débora extrapolara todos os meus limites ao falar de Bruna. Logo da Bruna. Eram tão parecidas em tantos aspectos. Talvez, falar dela fosse enterrar de vez esse nosso passado não nobre. Mas os recalques da minha mãe não vinham ao caso.
O caso é que cheguei à conclusão que não sou uma marionete nas mãos de ninguém. Nem dos meus pais. Tenho dezenove anos. Não preciso de desconfiança. De repreensões. Nesse momento da minha vida, preciso de confiança. E de apoio. Eu tinha de mudar. Eu queria mudar. Eu queria o meu espaço. Eu estava disposto a assumir de vez a minha vida.
Assisti às minhas aulas na maior paz comigo mesmo. Ciente de que havia tomado a decisão acertada. Eu iria sair da casa dos meus pais. Iria alugar um flat. Iria viver do meu trabalho. Iria pagar as minhas contas. Exatamente como a Bruna fazia.
Liguei para ela. Perguntei da sua avó. Estava melhor. Graças a Deus. Se continuasse assim, sairia da UTI no final de semana. Ela me perguntou se poderíamos ensaiar hoje. Claro que poderíamos. Marcamos para o final da tarde.
Quando cheguei ao estacionamento do colégio, tomei um susto. Milena estava encostada na porta do meu carro. Chorando copiosamente.
─ Acabou tudo. – Correu para me abraçar. – Ele terminou comigo.
Fiquei lá sem saber ao certo o que fazer com ela agarrada a minha cintura.
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Por Onde Andei
Ficção AdolescenteNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...