Carlos Eduardo - Sinto muito se fui invasiva

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─ Meu filho, eu sinto muito se fui invasiva na noite passada. Mas isso não justifica uma atitude precipitada dessas. – Dona Débora estava usando o modo carinhoso e um pouco de chantagem emocional. – Morar sozinho em um apartamento xexelento, gastando o pouco dinheiro que você tem...

─ Mãe, está na hora de tomar minhas próprias decisões. Cometer meus próprios erros. – Eu a interrompi. – Você mesma vive me cobrando mais responsabilidade. Mais iniciativa.

─ Certo, querido. Só não entendo porque você precisa sair de casa para fazer isso.

─ Preciso de espaço.

─ E para isso vai deixar a mim e seu pai naquele apartamento enorme e ir morar num flat? Não faz sentido.

─ Não se trata desse tipo de espaço. – O telefone tocou. Ela pensava que fosse um dos fornecedores. Esperou que eu atendesse. Era Bruna.

Disse que havia um apartamento de um quarto para alugar no mesmo prédio que ela morava com a avó. O lugar era bom e o preço surpreendentemente baixo. Ela explicou que pertencia a um gringo, ele aparecia vez ou outra, se eu não me incomodasse com isso, poderia fechar contrato. Combinei de passar lá amanhã depois da aula.

─ Quem era? – Dona Débora desconfiava, mas resolveu perguntar mesmo assim.

─ Bruna. – Eu não precisava mentir.

─ Claro que era. – Franziu o cenho.

─ Está me ajudando a alugar um apartamento. – Dava para ver os raios e trovões dentro da mente da minha mãe. Ela respirou fundo e continuou. Sabia que precisava mudar de estratégia, a guerra estava quase perdida.

─ Filho, só não entendo uma coisa... – Mudou para a sutileza. – Você não era alucinado pela garota dos Souza? Milena, não é? Mocinha linda. Delicada.

─ Era. – Respondi com uma certeza que eu mesmo nem sabia que já tinha sobre esse assunto. – Mas depois que eu a beijei... – Minha mãe abriu a boca admirada. Sorri e continuei. – Percebi que meu interesse era apenas uma ilusão de garoto. Nós somos muito parecidos. Gentis demais. Educados demais. E, para ser bem sincero, acho que comecei a entender que às vezes é preciso alguém diferente para nos ensinar a crescer.

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora