Epifania

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Diário de bordo. Ano 85-2223 da expansão Extra-colonial.

Não me lembro quanto tempo passei viajando. Talvez cinco meses na medição terrestre. Este é o quarto dia desde que acordei da hibernação. Foi um longo caminho até aqui. Mas estou preparada. Minha missão nunca foi realizada antes por humanos. Muitos dizem que é impossível de ser realizada por um. Porém, muitos Humathrons tentaram em vão. Latas-velhas. Bem diz o ditado, nunca mande um robô fazer o trabalho de um humano.

Aqui estou eu. Parada, diante da cabine com um vidro espelhado. Retirando a película de reflexão, finalmente vejo a terra. Nunca imaginei, ao entrar para as forças extra-galáticas, que um dia poderia vê-la tão de perto. Poucos a viram. Menos ainda retornaram para contar como era. Nossa única referência eram os reconstrutores de história. Saudades de visitar a reconstrução factual da criação do universo, da inauguração dos países terrestres, da terceira guerra mundial, da alvorada das Máquinas. Na escola, não dava valor a nada disso, mas agora sinto falta.

— Como vai, Agente 557 - Quoppa? – Diz uma voz metálica atrás de mim, enquanto admiro a terra bem diferente de como era em hologramas de reconstrução histórica.

— Estou bem. Reprogramar para nome de nascimento: Miridian.

— Como vai, Miridian?

— Pronta para a missão. E você, pronto para indicar as coordenadas do Kern?

— Já estão preparadas há cento e vinte e cinco dias terrestres.

Nunca tive muita paciência para com Humathrons. Falava com eles somente o que era extremamente necessário. Porém, para aquela missão, precisava dele. Era a única forma de ter esperança de sobreviver àquela viagem. Ainda que eu não precisasse de esperança.

Diário de bordo. Ano 85-2223 da expansão Extra-colonial.

Agente 557 - Quoppa após cinco meses terrestres de hibernação, apresentou fadiga inicial recuperada ao longo de quatro dias terrestres. Avaliação psicológica marcada para daqui mil, cento e noventa e sete segundos terrestres. Pré-avaliação comportamental não detectou nenhum problema neurológico. Aguardando avaliação técnica para checagem de compatibilidade de raciocínio lógico para padrões humanos.  Estamos a cento e noventa quilómetros da terra nesse instante. Ligando campos de força para não ser detectados pelos satélites de segurança de Mekhaterra. Se a avaliação psicológica seguir bem, a missão será realizada em doze horas terrestres.

Diário de bordo. Ano 85-2223 da expansão Extra-colonial.

Acabo de entrar na sala de avaliação psicológica. Uma lata velha vai avaliar se tenho condições suficientes para realizar uma missão. Absurdo que tive que engolir ao assinar o contrato para a viagem.

— Podemos começar a avaliação, Agente 557 – Quoppa?

— Já lhe reprogramei para me chamar de Miridian.

— Na sala de avaliação psicológica, você atende pelo nome de Agente 557 – Quoppa para relatório.

— Que seja.

— Qual seu nome de nascimento.

— Miridian Del Rei Schrodder

— Quantos anos terrestres você tem?

— Trinta e um.

— Qual seu planeta de origem?

— Lua de Terabios-998

Enquanto a lata velha fazia perguntas de praxe, painéis que rodeavam a sala transcreviam todas as minhas palavras. Um dos painéis monitorava minha respiração, outro meus batimentos cardíacos. Afinal, eu era a única vida pulsante na sala projetada para calcular o quão humano o interrogado era. Viagens interespaciais costumavam confundir o cérebro humano, por isso era necessária essa avaliação. 

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