02. Ou você fica, ou você morre.

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Após algumas horas caminhando, aproveitei o pôr do sol para encontrar um canto para passar a noite e descansar até o amanhecer.

Joguei a mochila por cima de uma árvore grande e troncuda, logo em seguida eu apoiei os pés nos galhos menores para subir. Fiz um coque com os cabelos ensebados, me recostei na madeira oca e fechei os olhos por alguns minutos, talvez uns dois ou até cinco minutos.

Os últimos atrevidos raios irradiavam meus olhos que mal tinham brilho, alguém que vive sozinha a mais de um ano, sem conversar com outro ser humano, sem trocar experiências, sem uma companhia de verdade deve saber lidar com isso.

A solidão não era minha única companhia, tem também as mágoas, as lembranças e meu subconsciente. Depois da minha última tentativa, eu desisti de procurar um grupo ou, sei lá, outra pessoa. Além de fracassar na escolha errada, tive que lidar com a solidão após o erro.

Suspirei melancólica e passei o dorso da mão na testa que transpirava, assoprei o peito e pescoço que imploravam por um banho, assim como o restante de mim. Apertei os olhos e respirei fundo. Olhei para o céu que agora estava azulado meio alaranjado ainda por conta do sol, as nuvens pareciam brincar entre si em um movimento lerdo.

Ouvi um barulho que me despertou para a realidade. Não era apenas um barulho, eram passos. Passos humanos. Me escondi entre algumas moitas e galhos secos que faziam um monte ao lado da árvore em que eu descansava, coloquei os olhos para espiar e vi uma mulher que estava acompanhada de um homem. Eles pareciam rir e trocar olhares, até que o homem se sentou no chão e arreou as calças, a mulher sentou-se já sem suas roupas por cima e eles começaram a transar, bem ali, em frente onde eu me escondia.

Aquela cena me embrulhara o estômago, foi tempo suficiente para eu cuidadosamente fugir dali e pôr tudo para fora. Depois de um tempo passando mal, retornei para meu esconderijo e vi que agora eles conversavam.

Eu pensara se deveria fazer algo ou se apenas deixava para lá, mas meu lado que não pensa logo denunciou sua vontade de aparecer, que me fez bolar um plano para me aproximar. Calmamente eu esperei que eles se distraíssem e os surpreendi.

-Quem são vocês?-Perguntei apontando a arma para cada um deles assim que os encarava.

-Kate e Marcus. Precisa de ajuda?-A mulher respondeu dando um passo para frente, mas logo parou quando engatilhei a arma.

-Ok. Me levem até onde vivem.-Péssima escolha. Muito antecipada, sem pensar.

-Claro, George vai adorar conhecer pessoas novas. Está sozinha? Machucada?-Ela fingia se importar com aquela cara de vadia louca.

-Olha só, não precisa se importar comigo. Eu só quero falar com o líder de vocês.-Respondi sem paciência ainda com a arma mirada para o casal. Aquele cara era um banana, se eu fosse ele já tinha lutado comigo mesma e arrancado a arma de mim, e me daria boas porradas. Mas não, ele simplesmente estava na mira, sem reação alguma! Alguém precisa dar aulas para ensiná-lo a como deixar de ser um merda.

Depois de caminhar por alguns minutos, chegamos a um conjunto de barracas com uma fogueira no meio. Um homem com chapéu de palha e macacão jeans completamente sujo e rasgado apontou sua arma em minha direção.

-Quem é essa?-Sua voz caipira logo estava sendo soada e voltada para a mulher. Que nojo! Essas pessoas já me enojam.-George!-Ele gritou e fiz careta com a merda de sua voz ainda mais alta e aguda! Puta merda, como quero matá-lo.

-Algum problema, Jason?-Um homem moreno, alto e sexy saiu de uma das barracas. Estava sem camisa, e exibia seu conjunto musculoso fantástico que me abria o apetite. Safada, talvez? Mas acreditem, virgem!

-Pessoa nova, uai.-PUTA QUE PARIU, QUE HOMEM ESCROTO ERA ESSE! Respirei fundo e agora, com a sobrancelha arqueada, queria fuzilar todos ali, até mesmo o gostosão.

-Qual seu nome?-Respondi um simples e seco "July".-Quantos anos? Já teve experiência com outro grupo?

-Olha só, vim negociar e não fazer um joguinho de perguntas e respostas.-Respondi nitidamente alterada.

-Vamos com calma, mocinha.-Ele sorriu malicioso.-Preciso saber de você primeiro, se é ou não confiável.

-Não tenho tempo a perder com apresentações, podemos conversar então?

-Claro, siga me.-Assim o fiz.-Então... Quero saber suas intenções.

-Eu preciso de comida. Acho que está na cara de que fazem pelo menos uns 7 ou mais dias que eu não mastigo porra nenhuma. Também queria uma arma, algo pra me proteger.

-Certo. Em troca, você nos daria o quê?-Respondeu ele passando a mal pela barba que ele com certeza já estava crescendo fazia um bom tempo.

-O que você propõe?-Arqueei uma sobrancelha e esperava uma resposta.

-Você poderia ficar com a gente, prestar serviço para pagar.-Ele respondeu sério.

-Quer me escravizar?-Ironizei e logo em seguida soltei uma gargalhada curta.-Olha, não vai rolar. Foi muito bom conversarmos.-Me levantei do chão quando fui puxada novamente para o mesmo.

-Você é uma garota extremamente rebelde. Ou você fica, ou você morre.-Sorriu extremamente nervoso.

-Tudo bem.-Assenti já criando um plano em mente.

Logicamente eu não seria estúpida ao ponto de ficar ali, logo seria estuprada e usada. Então, logo pensei em matar a noite, enquanto todos dormem, primeiro o caipira que fica na ronda, depois o casalzinho de merda, depois algumas pessoas nas barracas e por último o líder. Porém, eu precisaria estudar o lugar e as pessoas daqui, e isso poderia levar alguns poucos, ou talvez muitos dias.

Send a memories to the Devil // Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora