O começo

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- É estranho falar da minha vida assim!

- Calma John, nós estamos aqui para ajudar, okay? - A moça sentada na ponta do círculo dirigia o encontro,ela tinha cabelos longos e castanhos, seus olhos eram escuros e calmos, ela vestia um vestido florido e colorido. Todos no círculo olhavam fixamente para mim.

- Bom, acho que todos temos problemas né? - eu disse e todos disseram que sim com a cabeça - Sinceramente, não acho que nos sentarmos em um círculo, com um monte de desconhecidos , nos fundos de uma igreja, vá resolver algum deles.

- John!! - ela aumentou o tom da voz - Conversar nós ajuda a entender o que estamos sentindo, vamos, conte o motivo de sua mãe te trazer de carro todos os sábados até aqui.- ela consegue ser mais insistente que minha mãe.

- Vocês querem a verdade? - todos ficaram muito curiosos, alguns foram para frente, colocando as mãos nos joelhos ou apoiando a bunda mais para a ponta de suas cadeiras. - A verdade é que... Eu não sei o por que, eu não sei o que ela quer que eu fale aqui, por isso nunca digo nada. - Nesse momento a mulher que dirigia a roda encarou fixamente as minhas pernas - Aí meu Deus, você acha que meu problema tem haver com minhas penas não mexerem ? Não, não, já desencanei disso.

- Fale John -Disse uma mulher loira do lado da mulher que dirigia a roda, ela tem olhos azuis, cabelo loiro curto, usa calças jeans e regata preta, ela tentava falar como uma criança.

- O começo? Vou falar do começo:
" Eu tenho 16 anos, lá pelos meus 10 anos eu fui atropelado por um bêbado qualquer, ou eu achava que era um qualquer, era umas três da tarde, ele me deixou largado no chão, eu lembro da minha bicicleta toda detonado, e de todos os pães que eu tinha comprado, no chão. Pareceu uma eternidade até a ambulância chegar, e só então eu apaguei, só acordei quando já estava no hospital, minha mãe estava comigo, já tinha passado por três cirurgias e... "
Um som forte soou pelo espaço, o tempo tinha acabado, mas todos permaneciam parados, esperando a minha continuação, eu sai da roda e fui me guiando até a porta, então a mulher loira me parou, ela agarrou os apoios da cadeira e começou a me levar para a saída, a sensação era horrível, sentia como se ela fosse me sequestrar.
- Achei ótimo você falar hoje John- eu nunca falava nesses encontros, um mês e eu nunca nem tinha dito o meu nome, mas sabia o nome e o problema de cada um, aquela loira era nova, e ela estava criando um intimidade que eu não tinha dado.

- Eu odeio esse lugar- Disse sem pensar, só queria que ela se afastasse

- Mas John, aqui é a casa de Deus.- Agora eu já estava do lado de fora da igreja, e já via o carro da minha mãe, segurei as rodas com toda a força e sai de perto dela o mais rápido.

Após seis anos em uma cadeira eu já conseguia entrar no carro sem grande ajuda, meus braços ficaram muito forte em pouco tempo, vi mamãe colocando a cadeira no porta-malas .

- Você ficou aqui o dia todo de novo? - perguntei enquanto ela entrava no carro .

- Dessa vez, fui no mercado daqui comprar algumas coisas. - Ela já começava a dirigir - Como foi hoje ? E quem é aquele loura ? - ela se referiu a mulher com um tom malicioso, quase ofensivo.

- Eu não sei o nome dela, ela veio hoje e insistiu em mim... ( uma pausa) E eu falei hoje.  - eu não quero que ela pergunte mais nada sobre hoje, mas mesmo assim eu quero que ela pergunte.

- E o que exatamente você disse? - ela também hesita um pouco

- Sobre como é Idiota falar de seus problemas com desconhecidos no fundo de uma igreja ( uma pausa maior ainda) Sobre o acidente.

- Por que você falou disso? - ela sabe que já me resolvi com isso

- Eles acreditam que esse seja o meu problema. - ela parou o carro no farol
- E você não vai falar sobre seu real problema ?

- Ma... Mas eu não tenho um problema, você que fez um problema.

- John!!! - ela aumentou o tom da voz.
A viagem de volta foi em silêncio, desde o dia do acidente fomos morar no norte de Vancouver, mas minha mãe mantém a "ajuda" no centro, onde morávamos antes; viemos para o norte pois a antiga casa tinha muitas escadas, as ruas eram muito movimentadas e a escola não era tão preparada, agora estamos em uma casa pequena, com dois quartos um banheiro, uma sala e uma cozinha, tudo isso num só andar. A minha escola é um saco, não tem ninguém legal, ou não tinha.

Com as rodas de JohnOnde histórias criam vida. Descubra agora