São dez da noite e só agora estou saindo da praia, ventos frios fazem meus cabelos pretos voarem e eu sorrio e abro meus braços, aproveitando meus últimos momentos na ilha, afinal, daqui a alguns dias vou conhecer Miami e talvez morar lá definitivamente.
Corro pra pensão onde vejo Marina deitada cochilando com um livro nas mãos, seus cabelos cacheados escuros, seu rosto angelical e delicado, sua pele pálida que se difere da minha que é bronzeada, tudo nela é tão lindo e eu observo cada detalhe com cuidado, mas me desperto dos meus pensamentos quando ela acorda e pergunta com voz rouca:
- Que horas são?
- Deve de ser dez e poucos.
- Uau, dormi demais e você? Ficou o tempo todo nadando?
Ela fala e se aproxima de mim aos poucos, eu tremo na base mas não deixo transparecer.
- Sim, quero aproveitar cada pedacinho desta ilha antes do dia doze.
- Porque vai ir? De todos que conheço você é a que mais ama isso tudo.
- Amo muito, mas se eu tenho oportunidade vou aproveitar, minha vida não é só isso.
- Ok então, vou pro meu quarto.-diz friamente.
Ela se vira e vai, eu percebo que ela deixou seu livro e vou até lá levar pra ela.
- Marina?- Falo enquanto dou batidinhas na porta.
- Entra.
Ela retirou o macacão e está apenas com uma regata branca e calcinha também branca.
- Esqueceu seu livro na sala...
Ela que se olhava no espelho desvia o olhar para encarar minhas mãos que estão segurando seu livro.
- Tá larga aí.- Diz sem animo.
- Qual foi Marina?! É porque eu vou pra Miami?
Desta vez sai da frente do espelho e vem até mim.
- A questão não é uma viajem pra Miami, a questão é você não achar a nossa vida aqui bom o bastante para você!
- E não acho mesmo! Acho que tanto eu quanto você merecemos conhecer o mundo, ter uma vida melhor...
- Só você vai "conhecer o mundo".
- Vamos junto!!
- Para! Entenda, minha vida é isso aqui. Se acha pouco demais pra você, talvez eu seja pouco demais pra você.
O modo como ela falou me travou, ficamos por um longo tempo nos encarando e lágrimas começam a jorrar de meus olhos e logo me retiro do quarto, é confuso demais o que eu tinha com ela, eu não entendo de amor, muito menos destes rótulos que dão para as pessoas baseados nos gostos sexuais de cada um, acho isso burrice. Corro pra casa nos fundos da pensão onde eu moro e subo no telhado, sempre vinha ali quando meu tio batia na minha tia quando eu era criança, sempre para chorar e ver o mar, e é isso que eu faço.
Estou quase dormindo quando uma garoa fina me acorda, desço do telhado e vou pra cozinha onde esquento e me sirvo de sopa de legumes, pego meu prato e vou pro sofá, ligo a TV e não está dando nada interessante então desligo e pego meu notbook onde coloco na Netflix.
Estou quase dormindo quando me ligam, olho a tela do Iphone, leio o nome de minha tia e atendo.
- Alo?
- Meu amorzinho! Tudo pronto pra dia doze?
- Tudo sim.
- É como esta minha pensão? Você e Marina estão cuidando bem?
- Claro tia.
- Então ok! Estou animada por você! Filha tenho que desligar, amanhã te ligo de novo, logo logo tô de volta, Beijo!
- Fica bem, boa noite tia.
- Boa noite meu xuxu.
E ela desliga e eu me deito no sofá e fico observando meu teto de madeira até pegar no sono.
Acordo na manhã seguinte ao som de Sia no meu despertador. Me levanto e vou pro banheiro tomar um banho, morar sozinha é a melhor coisa que existe nessa vida, eu saio do banheiro ainda molhada pois não achei toalha seca, vou para o meu quarto e nada de roupa limpa, realmente morar sozinha é uma maravilha! Acabo por colocar um biquíni e vou pra pensão assim mesmo, lá eu tomo café e boto pra lavar minhas roupas, quando vou saindo da lavanderia vejo Marina.
- Oi Lolla...- Diz ela sorrindo fraco.
- Oi.
- Eu fui meio idiota ontem.
- Não, tudo bem, você não gostou do que eu disse...
- Eu te amo, tá legal?! A idéia de você ir e eu ficar me dói e é por isso que falei aquelas coisas, você deve sim se agarrar as suas oportunidades e viver, eu só queria ter mais tempo com você.
Eu sorrio e abraço ela. Nunca tínhamos dito "eu te amo " uma pra outra, mesmo que este sentimento estivesse sempre ali. Ficamos um tempo abraçadas e eu digo baixinho em seu ouvido:
- Eu te amo, também.
Nós duas sorrimos e nos beijamos, não sei como, não sei porque, não sei de nada, só sei que foi único e maravilhoso aquele pequeno momento.

O mar, meu larOnde histórias criam vida. Descubra agora