Gabriel
A manhã fria e escura combina estranhamente com meu humor. Tudo parece coberto de uma tristeza profunda.
Assim como eu.
A chuva fina cai devagar, cobrindo o mundo com um manto cinza, e uma canção de Roy Orbinson antiga que fala sobre sonhos impossíveis toca no rádio. O sinal vermelho me obriga a parar o carro para o montueiro de pessoas que esperam para atravessar a rua quando eu a vejo.
Longos cabelos castanhos emoldurando um rosto pálido e um sorriso no rosto que diz: "eu sou feliz".
E algo naquela felicidade me entristece ainda mais. Sua felicidade é quase ofensiva para alguém como eu. E eu apenas a observo por aqueles segundos, enquanto ela atravessa a rua levando seu sorriso e várias sacolas pelas mãos, quando a vejo escorregando na rua molhada e indo ao chão.
Sem pensar no que estou fazendo, saio do carro e me ajoelho do lado da garota caída.
– Ei, tudo bem? Está machucada?
Ela abre os olhos e me encara confusa e assustada.
– Eu não sei... Oh meu Deus, que desastrada! – Ela parece mortificada, como se tivesse odiado ter caído.
– Pode sentar? Está doendo alguma coisa?
– Sim, estou bem... Acho. – Estendo a mão para ajudá-la a se levantar e a meço rapidamente. Ela veste um casaco volumoso, propício para o frio matinal que ainda persiste naquele começo de primavera, e eu arregalo os olhos quando o mesmo se abre, revelando um ventre dilatado.
A moça está grávida.
– Você está grávida. – Exclamo com assombro, enquanto ela passa a mão na barriga.
– É o que parece. – Sorri, mas eu visualizo um pouco de medo em seu olhar.
– Tem certeza que está bem? Um tombo numa situação como a sua... – aponto para sua barriga. – Acho que deveria tomar cuidado.
Ela revira os olhos.
– Eu sou descoordenada por natureza, acredite, embora eu tenha tomado muito cuidado agora... Mas foi só um tombo, não é?
– Acho que deveria ir ver um médico e se certificar que está mesmo tudo bem.
– Eu não sei... – Ela morde os lábios, incerta.
– Vem, eu posso levá-la a um hospital.
– Não, não precisa...
Mas eu já seguro seu braço a levando até meu carro, as pessoas que pararam a nossa volta abrem caminho com murmúrios curiosos.
– Eu realmente acho que não precisa... – a moça continua balbuciando quando fecho a porta de passageiro, dando a volta e sentando no banco do motorista.
– Não será trabalho algum. – Insisto, dando partida no carro.
Saímos pela avenida movimentada e dobro a esquina, em direção ao Swedish Medical Center, o hospital mais próximo. Relanceio os olhos para a moça quando paramos num semáforo vermelho. O semblante antes feliz, agora está cheio de preocupação enquanto ela acaricia a barriga. Ela parece jovem demais para estar grávida e de repente me vejo curioso sobre sua história. O que é tremendamente ridículo. Eu não a conheço, nem ao menos sei seu nome.
– Meu pai curte esta música. – Ela murmura e só então eu percebo que ainda está tocando Roy Orbinson.
Eu não falo nada, voltando a atenção para o trânsito.
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Por um sonho -Degustação
Romance***Atenção este .livro estará disponível completo no Wattpad até o dia 22/04** Ele será lançado na Amazon em Maio** Uma proposta inusitada. Uma conexão inexplicável. Uma paixão proibida. Numa manhã chuvosa e fria, Milly literalmente cai na vida de G...