Capítulo 2

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Um ano depois

Seattle continua impossível com seu tempo inconstante e eu me pergunto por que estacionei o carro tão longe, quando saio do restaurante e uma chuva fina me recebe na rua apinhada de gente.

– Inferno. - Murmuro, pegando o celular e digitando uma mensagem para minha secretária, informando que irei me atrasar para a reunião da tarde.

Na verdade, eu não estou com o menor humor para reunião ou para o que quer que seja hoje. Não depois do almoço difícil que eu tive.

Passo a mão por meus cabelos molhados, olhando o céu escuro, e me perguntando para onde vou agora, quando de repente uma sombra preta se coloca sobre minha cabeça.

Um guarda-chuva.

E uma risada.

Eu me viro e vejo Amélia Edwards.

– Sabia que era você. - Ela diz.

– Amélia. – Exclamo surpreso de vê-la de novo. Já faz um ano que ela caiu na minha frente e eu a levei para o hospital.

Meu olhar curioso recai quase automaticamente para sua barriga. Mas claro que ela não está mais grávida.

– Milly. – Ela diz suavemente. – Me chama de Milly. Não gosto que me chamem de Amelia, Gabriel Collins.

Ela lembra do meu nome.

– Estou chocado de vê-la de novo.

– Pelo menos eu não caí desta vez.

É minha vez de sorrir.

– Sim, não caiu. E nem está mais grávida.

De repente seu sorriso se desfaz como quando o sol se esconde atrás das nuvens.

– Não, não estou. – Ela murmura, desviando o olhar.

Eu franzo a testa.

A chuva aumenta e eu percebo que ela ainda segura o guarda-chuva sobre nossas cabeças, com seu braço bem levantado já que eu sou bem mais alto que ela.

– Por que não entra comigo? Podemos tomar um café, a chuva está piorando.

Ela hesita, mordendo os lábios.

– Claro, por que não?

Eu pego o guarda-chuva de sua mão e agora eu noto que ela usa aliança, diferente de um ano atrás. Ela percebe meu olhar, enquanto entramos no restaurante.

– Meus dedos estavam inchados naquela época. Por isto eu não a usava. – Explica.

O maitre nos leva até uma mesa de canto, de onde dá para ver a rua pelas paredes de vidro.

– Um café? – Pergunto e ela assente.

Eu faço nossos pedidos e quando o garçom se afasta, eu a encaro.

Há algo diferente nela.

Aquela felicidade luminosa sumiu.

Ainda é uma moça bonita, ainda parece incrivelmente jovem, mesmo usando agora uma roupa mais formal. Seus cabelos continuam os mesmos, longos e castanhos. Mas seus olhos escuros parecem carregar uma tristeza que não estava ali há um ano.

– Como está seu bebê? – Indago e ela olha para as próprias mãos sobre a mesa, soltando um suspiro, e quando volta a me encarar, há um sorriso triste em seu rosto.

– Eu o perdi. Ele nasceu morto.

Eu sinto um baque de choque.

– Sério? Mas... Nossa, eu sinto muito.

Por um sonho -DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora