Capítulo 1

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Suas mãos tremiam. Gotas de suor brotavam de sua testa, escorrendo até o queixo, e acima da boca, formando um bigode de suor. A respiração vinha entrecortada.

A garota saiu de sua casa. Mike continuava ali, atrás do carro, do outro lado da rua onde ele nunca seria visto.

Ela estava distraída, despreocupada, entretida em alguma conversa ao celular.

Ela seguiu caminhando, rebolando um pouco, mas com passos decididos, e com seu rabo de cavalo indo de um lado para o outro. Usava uma camiseta preta e calça jeans apertada. Seus cabelos eram bem claros, quase brancos. Mike a seguiu, deixando uma boa distância entre eles.

Só mais alguns metros e depois mais alguns minutos e ele estaria livre de toda aquela loucura. Tinha que estar. Tinha.

Susan. O nome da loura era Susan. Não que isso realmente importasse.

Ela desligou o celular e o guardou na bolsa. Ergueu algo de lá de dentro e uma luz atingiu os olhos de Mike. Aquilo era um espelho. Ela o viu. Ela correu. Era o que ele mais temia. Imprevistos. Ele não tinha culpa de que teria de mata-la, tinha?

Ele era mais rápido que ela, bem mais rápido. Não demorou em alcança-la. Justamente no início da ponte. Era aquele o destino da noite.

Ele tampou-lhe a boca para que não gritasse. Não precisava de mais imprevistos. Não a largou nem quando ela o mordeu. Seguiu lentamente até debaixo da ponte, afinal ela continuava tentando escapar.  

Debaixo da ponte havia um rio. Se é que aquilo poderia ser chamado de rio. Pneus, garrafas, sofás... A água de dia era amarronzada e naquele momento, de noite, parecia piche.

Mike a arrastava. Ela se debatia. Com isso, ele sentiu as curvas de seu corpo. Que desperdício matar uma beleza como aquela, pensou amargamente.

Com a água até a coxa, proferiu as palavras que seriam as últimas ouvidas por Susan e também as últimas que seriam ditas com o mínimo de sanidade.

- Sinto muito.

Empurrou a cabeça da loura para aquela água nojenta que fazia seus olhos lacrimejarem. Porque ele não poderia estar chorando. Chorar quer dizer ter o mínimo de sentimentos e ele perdeu essa capacidade quando teve seu primeiro desejo realizado. E também ele nada tinha a ver com aquela garota. Ela não era nada para ele. No mais, apenas seu bilhete de liberdade. Com isso em mente segurou a cabeça da garota sem remorso até que ela parou de se debater.

Estava morta. E ele estava livre.

Colocou-a gentilmente na margem, por respeito a sua obra, e se encaminhou de volta para cima da ponte.

Estava livre.

O pesadelo acabou.

Estava livre.

Ele poderia começar a pular e cantar, mas ainda, ainda, não havia chego nesse grau de insanidade.

O vento ricocheteava suas roupas úmidas, cortava seu rosto e ele tremia de frio, mas nada disso importava. Estava livre!

Uma viatura passou por ele, em direção ao centro, enquanto ele tomou o caminho contrário, por onde viera no começo da caçada.

Um som de derrapagem.

Portas se abrem e são fechadas com força.

- Parado – um homem de voz rouca grita.

Mike olha para trás, confuso. Seria com ele que estariam falando?

Um segundo homem fala ao rádio da viatura, a mesma que havia passado instantes antes por ele. O primeiro homem, o que havia gritado, estava com uma arma apontada para Mike. Algo estranho sobe por seu corpo como uma onda e se espalha. A insanidade enfim o invadindo.

Logo inúmeras viaturas chegaram ao local. O jogam no banco traseiro de uma das viaturas. Encontram o corpo de Susan.

Ele olha através da janela e vê um vulto se afastando para dentro da vegetação. De repente tudo se torna engraçado. O desgraçado que o havia metido naquilo, o homem que ele havia quebrado a perna, o jogador de futebol que ele havia espancado, a loura que havia afogado, ele na viatura... Tudo!

E ele continuou rindo. Rindo sem parar.

 Ele estava livre e mais preso do que nunca. Isso não era irônico?

Conte-me seus DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora