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     - Tás a ver uma lâmina? Que tu pegas aqui e cortas-te, pegas ali e cortas-te? Não há maneira de não te cortares. Aqueles gajos são que nem um dessas.
Dizia o Theodore, enquanto vislumbrávamos uns tipos do 12ºque estavam ao portão da escola a trocar saquinhos de "farinha" por dinheiro e simultaneamente a fumar como se nada fosse. 
     -Parece-me cada vez mais tentador...- murmurei eu, com os olhos afiados observando o seu método de contrabando. 

     -Esquece. A única gaja que é permitida naquele grupo é a Cassie, a namorada do Ricky. Nã tens hipótese, miúda. Vês mais alguma fêmea ali? 
      O Theo quase sempre me fazia questionar o que já eram certezas para mim, os meus próprios métodos e a minha convicção de realizar alguma coisa, mas não desta vez. Aquele era o gang que tinha magoado o meu melhor amigo. Que o tinha levado até ao abismo, até ele não aguentar mais, até não poder mais ao ver o seu reflexo ao espelho. Precisava de saber o que é que eles faziam de tão péssimo que o fizera sentir-se culpado até às entranhas do seu corpo. Que o fizera engolir um frasco de comprimidos sem dar justificações nem se despedir de ninguém. Que fizera os seus pais entrar em depressão ao encontrar o filho supostamente a dormir na cama. Até perceberem que não dormia. Até encostarem a cabeça ao seu peito e verificarem que o seu coração não batia. Até deixarem de ver o seu peito erguer e baixar e até a sua respiração parar. Poderiam ter feito alguma coisa, mas ao invés disso, deitaram-se ao lado do filho, nos seus últimos minutos de vida. 

E eu sabia que, a cada dia que passava, isso os matava, esventrava e levava à loucura, por dentro. Talvez fosse por isso que estavam internados no hospital psiquiátrico de Cleo City. 


No LimiteWhere stories live. Discover now