O dia era chuvoso e eu estava todo ensopado da corrida até o ponto de ônibus, mas não estava tão incomodado. Assim que subi os degraus e ultrapassei a catraca, vi você em pé em um dos cantos, com fones de ouvido e batucando os dedos na barra em que segurava devido aos trancos que o automóvel dava vez ou outra. Não sabia seu nome, mas sabia que era lindo.
O cabelo preto cobria seus olhos que pareciam ser da mesma cor, um óculos com armação redonda estava apoiado perto da ponta de seu nariz e a máscara preta deixava fora de vista os lábios que sempre quis olhar e saber se eram tão bonitos quanto o resto de seu corpo. Sempre de preto, como eu, mas hoje parecia diferente.
Com a freada brusca, seu corpo foi pra frente e rapidamente se recompôs, abaixando a cabeça evitando olhares. Mas você ainda não me conhecia.
E seus olhos ainda não haviam me conhecido.
Algumas pessoas desceram e você acabou se sentando em um dos bancos ao lado da janela, apreciando os pingos da chuva.
Eu amava a chuva, porque ela sempre parecia me acolher.
Queria me sentar no local vago ao seu lado, mas estava úmido demais. E se você se incomodasse? Não saberia dizer.
Os pontos iam passando. E o meu também.
Será que estou atrasado demais para sentar-me ao seu lado por alguns minutos?
Resolvi que era aquele momento ou nunca, me sentei ao seu lado, tentando não encostar minha calça ainda meio úmida em sua perna, olhando para qualquer canto que não fosse você.
Mas senti seu olhar queimando sobre alguma parte do meu corpo que já não sabia mais decifrar. O que você estava olhando?
Enquanto meu pescoço voltava a funcionar e se virava para encarar seu rosto de perto, minhas bochechas iam se escurecendo para o vermelho rubro, e quando eu finalmente olhei diretamente para os seus olhos de perto, mordi os lábios por puro nervosismo.
Seu olhar estava tão preso no meu que quase os fechei. Você tirou a máscara em frente aos lábios e a apoiou no queixo, seus lábios eram tão lindos e pareciam macios.
Você me perguntou se eu estava com frio e eu neguei veemente, mas sentia frio. E consequentemente, sabendo de minha mentira, tirou sua jaqueta e colocou sobre meus ombros.
Afinal, nós nem se quer nos conhecíamos. Por quê?
Quando perguntou meu nome, apenas olhei pro chão, dizendo para que só ele pudesse me ouvir.
Meu nome era Park Jimin.
E o seu era Jeon Jeongguk.
Era o nome mais lindo, para uma pessoa linda como ele.
Jeon sorriu para mim, enquanto tocava em minha mão para cumprimentar-me.
Não pude deixar de corar mais forte ainda. Segurando sua palma quente comparado ao gélido da minha.
Conversamos durante o trajeto que já não sabia mais para onde eu estava indo.
Eu me atrasei. Me perdi. E me apaixonei outra vez.
Após um silêncio confortável, eu te encarava enquanto você olhava as ruas molhadas e o céu nublado. Sorri sozinho sem perceber.
Notei as diversas pintinhas em seu pescoço bronzeado, o maxilar travado e marcado, fiquei inebriado pelo cheiro forte de colônia tanto em si, quanto em sua jaqueta que ainda me apossava. Sorri mais uma vez.
Tentava guardar cada detalhe de seu rosto, caso eu nunca o visse de novo. E acabei mordendo novamente os lábios em cogitar nunca mais vê-lo.
Ainda com a máscara posta em seu queixo, o vi sorrir de lado, e eu acabei sorrindo de volta, porque você estava sorrindo.
Você era tão lindo que mesmo se eu o visse outras milhares de vezes, não seria capaz de acreditar que o via realmente.
Eu sorri o trajeto todo, e você sorriu para mim todas as vezes em que notava meus olhos sobre si.
Me perdi em Jeon Jeongguk, perdi o rumo e o coração.
Afinal, ele era todo seu.