Capítulo 16

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Depois de comermos as torradas caseiras — Que estavam deliciosas — e levantarmos da mesa, fomos todos nos sentar no sofá — Era um sofá bem simplisinho com pés e braços de madeira e não muito macio. —  Ficamos conversando por várias horas, a Senhora passou a nos contar algumas historias sobre sua vida.

— Sinto tanta falta do meu velho, ele construiu essa casa sozinho, com muito suor, lembro que não tínhamos banheiro, nós tomávamos banho com a água do poço, de balde e caneca. Fazíamos nossas necessidades em baixo de uma folha de bananeira que hoje não existe mais. — Ela começou, com um olhar triste.

Eu fiquei parada olhando para aquela mulher, com tantas marcas deixadas pela vida em cada ruga de seu rosto, ela aparentava ter lutado muito.

— O Vovô fazia várias coisas pra mim, uma vez ele fez uma casinha de boneca com madeira no quintal, eu adorava brincar nela. Mesmo sem bonecas, eu me divertia muito fazendo bolinhos de lama lá dentro. — A garotinha contou, empolgada. — Eu não queria que o meu vô tivesse ido morar no céu. — Ela completou chateada.

— O seu avô está muito feliz cuidando de vocês duas lá de cima. — Eu comentei, para conforta-la. — Você não quer me mostrar sua casinha ? — Perguntei.

— Eu não tenho mais casinha. Um dia a tempestade derrubou ela, e o vovô estava muito doente para concertar. — Ela respondeu triste, e eu senti pena daquela menina.

Enquanto a menina falava, a Senhora suspirava como que relembrando, e eu e o Jason ouviamos com atenção.

— Sabe Crianças, quando eu tinha a idade de vocês, eu e meu velho adoravamos nos esconder pelas matas, dormiamos lá, acampavamos, essa mata era muito mais extensa, antes de começarem a construir as Fazendas. — Ela nos contou com um olhar distante.

— Vovó, você e o vovô brincavam na mata ? Mas você não me disse que é perigoso ? — A Julinha perguntou, arqueando uma sombrancelha, desconfiada.

— Sim minha menina, mas antigamente as coisas não eram assim, hoje em dia os homens maus se multiplicaram. — Ela tentou explicar.

— A tá. — A menina respondeu desanimada.

— A senhora morou aqui por todos esses anos ? — Perguntei.

— Sim criança, essa casinha aqui, antigamente era apenas um cômodo pequeno. Esse onde nós estamos, eu morava com a minha mãe e com o meu pai. — Ela me respondeu.

Eu passei os olhos pelo comodo, ele era muito pequeno para uma familia morar apenas nele, tentava imaginar tudo aqui dentro, desde cama, fogão, e todos os outros utensílios necessários para se ter uma vida estável.

— Eu compreendo. — Respondi apenas.

A menina então se levantou, dizendo que iria ao banheiro tomar um banho.

— Tenho medo de ir embora dessa terra e deixar minha menina sozinha, ela não tem pais e não temos mais ninguém, somos apenas nós duas. — A Senhora comentou, com um olhar de tristeza assim que a menina se retirou.

— Não tem ninguém que possa ficar com ela ? — Perguntei preocupada, pois aquela senhora já estava muito idosa.

— Não.. Seus pais faleceram dois anos antes do meu velho, em um acidente de ônibus enquanto voltavam do trabalho, o ônibus caiu em uma ribanceira. Acredito que isso contribuiu para que a saúde do meu velho piorasse, ele ficou muito triste por perdermos a nossa filha. — Ela me respondeu.

— Eu sinto muito.. — Respondi, e o Jason abaixou a cabeça, pensativo.

Naquele instante, eu decidi que não perderia o contato com essa Senhora e com a menina, iria me assegurar de que a menina não ficasse sozinha, a levaria para algum lugar onde pudessem proteje-la quando chegasse a hora, um abrigo para crianças, procuraria o melhor da minha cidade e a visitaria sempre para saber como ela estava. Mas só falaria sobre isso quando chegasse o momento certo.

O Marido da minha Melhor AmigaOnde histórias criam vida. Descubra agora