Os pelos de meu corpo se eriçam, meus olhos se arregalam absurdamente, minha garganta seca e meus músculos travam. O som da cidade some e minha música parece ficar baixa demais para ser ouvida mesmo eu estando de fone. Ele está de volta. Não, não é ele. Essa presença é mais fria, mais assustadora. A dele, apesar de ser tão assustador quanto essa, é uma presença mais confortável, mais segura. Continuo parada com o celular na frente do meu rosto, meus olhos arregalados encarando a escuridão do meu quarto na madrugada do final de semana. Uma brisa gelada e aterrorizante envolve meu corpo, fazendo-me tremer sem saber o motivo. Tem alguém aqui! Eu tenho certeza! Tento em vão abrir minha boca para proferir alguma, qualquer palavra. Preciso saber o que é isso que me persegue desde que me entendo por gente, mas o medo irracional não me deixa fazer absolutamente nada, não consigo mover nem minhas mãos que ainda seguram o celular na minha frente, exibindo a conversa que estava tento com meu melhor amigo, meu estômago parece se contorcer até virar uma grande bola no meu interior. Sinto cada vez mais próximo, essa coisa está se aproximando e eu não consigo fazer nada!Novamente movo meus olhos, as únicas coisas, além do meu peito que sobe e desce desregulado com a respiração acelerada, que consigo mover. Não vejo nada, meu quarto escuro, assim como o resto da casa, impedindo de ver alguma coisa caso houvesse algo para ser visualizado. O frio fica cada vez mais intenso, cada vez meu corpo treme mais forte, sei que está mais próximo. Mas sei que não é ele.
Onde estiver me ajude, por favor! - Imploro inconscientemente para algo que talvez não passe de minha imaginação, mas preciso de algo em que acreditar.
Ele não pode ser de todo fruto da minha criativa imaginação! Não pode!
Um vento gelado sopra em meu rosto fazendo meus batimentos cardíacos subirem descontrolados. O celular ainda iluminando somente meu rosto, meus olhos procurando alguma coisa em volta de mim, mas não há nada que possa ser visto através de meus meros olhos mortais. O sinto do meu lado, a coisa está ao meu lado! A presença maligna e sufocante está me encarando, eu posso ter certeza disso.
- Doroth... - meu nome é sibilando ao meu lado me fazendo segurar a respiração e lágrimas de medo descerem por meus olhos. O som parece ter saído de uma cobra venenosa, se estendendo no "th".
Tão rápido como veio, vai. O som que parecia ter desaparecido volta, meu corpo tem controle de si mesmo e o quarto não parece mais ser tão escuro como estava. Não consigo fazer nada além de aumentar no máximo o volume da música que toca no fone, deitar na cama e puxar as cobertas até cobrirem todo meu corpo. Meus olhos se fecham fortemente tentando dormir, em vão. Não sei quanto tempo permaneço dessa forma, quase ficando surda e morrendo de calor, até que enfim o cansaço é mais forte me fazendo adormecer.
Sinto mãos geladas envolvendo meu pescoço e minha respiração cessa. Abro os olhos e não enxergo nada além do breu agoniante. Continuo sendo sufocada por algo que não consigo ver e menos ainda tocar, minhas mãos tateiam o vácuo no meu pescoço a procura do que quer que seja que está me matando. Nada. Não há absolutamente nada aqui. Nada que eu possa tocar ou ver. Sinto a vida sendo arrancada do meu corpo aos poucos enquanto meus braços pesam e não consigo move-los, meus pulmões ardem a procura do ar que não vem. Meus olhos se arregalam à espera da morte quando, de repente, é como se puxassem de cima de mim o que me sufoca, meu corpo recebe um tranco para frente e caio novamente no chão, tossindo em desespero a procura do ar que entra rasgando meus pulmões me devolvendo a consciência que perdia. Minha cabeça roda e não consigo me manter em pé quando tento levantar, mas antes que atinja o chão, uma força invisível me segura firme. Sinto um braço ao meu redor me puxando até meu corpo se chocar com outro corpo, bem maior e mais forte que o meu. Um cheiro numa mistura de baunilha, ervas e alguma coisa que não sei identificar, me invadem. Apoio-me nesse corpo sentindo meu coração bater descontrolado, meu corpo tremendo e minha garganta arranhando. O medo tomando meu ser ao mesmo tempo que a tranquilidade.
É ele! Eu sei que é!
Levanto o olhar para encontrar duas esferas terrivelmente brilhantes, numa mistura de verde com castanho me deixando mais perdida, as palavras que pretendia falar desaparecem do meu cérebro. Tenho certeza que é ele! Aperto minha mão contra seu peito sobre um tecido que julgo ser de uma camisa. Antes que possa fazer qualquer outra coisa, tudo gira muito rápido fazendo minha cabeça girar ainda mais rápido e meu estômago se embrulhar. Abro os olhos assustada e agora posso ver meu quarto parcialmente claro.
- O que...? - Observo a tudo confusa, minha voz mais rouca que o normal, meu pescoço dolorido. Isso tudo não pode ter sido só um sonho, pode?
Balanço a cabeça negativamente me lembrando dele, seus olhos me olhando tão intensamente... Seu calor que me envolveu... Ele é real!
Atordoado levanto-me e tomo um banho gelado, tentando me livrar de toda essa confusão mental. Despeço-me de meus irmãos gêmeos e de minha mãe que me ignora e vou para fora. Sam já me esperava em frente à casa.
- O que há com você hoje? Está tão quieta. - Ele comenta entrelaçando nossos braços.
- Não sei, tive uma noite ruim, acho. - Sussurro de volta.
- Odeio quando você fica assim. Sabe que pode me dizer tudo, né? Você é minha melhor amiga, eu te amo e vou estar aqui sempre. - Fala, como sempre prestativo. Sorrio pra ele, o abraço de lado e assim continuamos nosso caminho.
Sam é meu melhor amigo desde... Bom, desde sempre. Eu sei que posso falar tudo pra ele, mas... Não sei se ele acreditaria em mim. Prefiro não arriscar.
Novamente o silêncio sufocante se faz presente no meu quarto. Cubro-me com as cobertas numa tentativa em vão de não sentir esse medo. O ar pesa e meus pulmões trabalham mais rápidos. Minhas mãos suam e meus olhos se fecham fortemente.
Medo. Medo é só o que sinto em todo pedaço de meu ser.
Enfim abro os olhos só para fitar esferas esverdeadas com castanho me encarando em meio a escuridão do quarto. Arregalo os olhos sentindo-os ardendo devido as lágrimas. Meu coração palpita tanto que acho que o ser até pode ouvi-lo. Em um piscar de olhos a sombra desaparece e sinto sua presença atrás de mim, estou deitada na cama e tenho quase certeza que o ser está sentado sobre minha cama. A respiração quente bate contra minha bochecha e eu volto a fechar os olhos com força. Seu toque frio vem logo depois. Ao mesmo tempo que um medo incontrolável me invade, uma segurança se faz presente. Volto a abrir os olhos e viro meu rosto sentindo dedos fazendo movimentos circulares sobre minha pele. Seus olhos brilham intensamente me encarando, minha mão consegue se mover e vai de encontro com a dele sobre minha bochecha. Toco seus dedos frios e ele fecha os olhos, posso ouvir sua respiração acelerada de onde estou. Parece que uma corrente elétrica passa por nossos corpos só pelo pouco tempo que nos tocamos. Mas antes que eu faça qualquer outra coisa, ele volta a abrir os olhos que mostram tristeza e arrependimento, então tudo gira e eu acordo assustada na minha cama, na mesma posição, agora já é manhã.
Tem algo de errado comigo, mas eu não sei o que é.
Mesmo não entendendo nada, não sabendo se é mesmo real, sei que ele voltará novamente nessa noite. E em todas as outras.
•••
Uma parceria com minha irmã postiça, Gabbe_HH, para comemorar de maneira única o Halloween, a data preferida de nós duas. Dê uma conferida no conto dela se puder também, está em seu perfil. Espero que tenha gostado.
"Onde os humanos se fantasiam de monstros e os monstros fingem ser humanos
Por um único dia é permitida a troca de papeis
Só que apenas um lado da história sabe de todo o roteiro. ''
- Gabriela H. H.
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30.10.2016.
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Doroth.
Short StoryEu o sinto. Como se andasse atrás de mim o tempo todo. Se ele é real ou não, não importa. Ele nunca me deixará. Um conto em comemoração ao Halloween.