Capítulo sem título 21

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                                 Melinda

Eu não me importo!

Repito várias vezes para mim mesma. Eu não me importo com minha mãe. Eu não me importo com a Laura. Eu não me importo com a Beatriz. Eu não me importo com meu irmão. Eu não me importo com André. E não me importo com o Daniel e aquela pé grande. Eu não me importo com ninguém. Eu sei que estou mentindo, mas eu preciso disso para manter minha sanidade. Eu sinto como se estivesse na beira de um precipício e apenas mais um passo e eu cairia em uma escuridão sem fim. Estou com medo, assustada e triste. E o que mais dói é que ninguém parece se importar. Eu realmente pensei que o Daniel se importasse, pensei que algo estava mudando entre nós. Garotos. Só pensam com a cabeça de baixo. Eu odeio garotos. Talvez eu deva me tornar freira. Dou risada. Eu uma freira? Acho que não. Sem contar quem nem ao menos sei se vou mesmo sobreviver. De repente me dou conta de uma constatação obvia. Eu posso morrer a qualquer momento. Mas para onde eu iria? Para o Céu com certeza não, eu não mereço o Céu. Mas então eu iria para o Inferno? Eu sei que maior parte do tempo não tenho sido uma boa pessoa, mas eu não quero ir para o inferno. Tem que haver um meio termo. Deve haver. Meus pais sempre foram muito religiosos, porém eu nunca me apeguei muito à religião. Mas eu decido fazer uma prece aos Céus. E eu sinto algo maravilhoso. Como se uma luz brotasse de dentro do meu peito e uma paz tão boa. Eu quero me envolver nessa luz. Eu quero essa paz...

Bip...

Afasta...

Bip...

Afasta...

Eu me sinto sendo sugada e então a paz se vai. Abro os olhos e percebo que estou no hospital. Várias pessoas estão em volta de uma maca e então vejo meu pai pela vidraça. Ele parece desesperado. Espera. O meu pai está chorando? Chego mais perto da maca e vejo que sou eu a paciente deitada nela. O médico e os enfermeiros estão tentando me reanimar. A máquina que mostra meus batimentos está com um som estranho. Um som de morte. Então era isso. Eu estava morrendo. Eu me desespero. Eu não posso morrer agora. Não assim. Eu preciso resolver tantas coisas ainda. Meu assassino. Meus pais. Meu irmão. Daniel. NÃO! Eu não quero morrer. Pulo sobre meu corpo, mas nada adianta. Então choro. A emoção toma conta de mim. E então eu suplico a Deus que me dê mais uma chance. Mas nada acontece ainda. É o fim. Me sento em um canto chorando baixinho e pensando na minha vida. Pensando em todas as chances de ser uma pessoa melhor que desperdicei. Pensando em todas as pessoas que magoei. Eu me arrependo muito de tudo que fiz.

Ela voltou!

Olha na direção dos enfermeiros e ouço as batidas do meu coração voltando ao normal. Eu estou viva. Obrigada Deus. Eu estou viva, mas ainda não recobrei a consciência. Meu espírito continua fora do corpo. Mas agora eu tenho uma chance de fazer tudo certo. Eu preciso encontrar o Daniel. Dane-se a pé grande. Eu vou lutar por ele.

Espero até amanhecer para procurar Daniel no colégio. Procuro pelos corredores e vejo as meninas do meu squad reunidas. Elas conversam animadas e Larissa esta abraçada a Laura. Parece que foi fácil para Laura me substituir como melhor amiga. Na verdade eu acho que essa amizade só existiu na minha cabeça. Eu dei poder a ela e ela me usou. Apenas isso. Mas eu também tenho culpa. Sempre a deixei me manipular. Confiava cegamente nela. Eu continuo minha caminhada, porém não encontro Daniel em lugar algum. Será que ele não vem à aula hoje? Resolvo ir até as arquibancadas. Também não o vejo. Olho ao redor e algo me chama atenção. Alguns garotos estão batendo em um menino. De novo não. Corro até eles. Igor está muito machucado. Eles estão indo longe demais. Se não pararem vão matá-lo. O que eu posso fazer? Me desespero. Saio correndo pelo colégio. Eu preciso encontrar o Daniel de qualquer jeito. Eu não o encontro. Resolvo ir para sua casa e quando estou começando a fechar os olhos ouço-o me chamar.

-Daniel!

Ele me olha e percebo que nota o desespero em mim. Ele vai até um canto para que possamos conversar e eu o peço para que corra ajudar Igor. Ele corre até um amigo seu e pede ajuda. Os dois vão em direção as arquibancadas e eu corro atrás.

-Ei, idiotas! Porque não mexem com alguém do seu tamanho?

Daniel grita para os garotos. Os garotos se entre olham julgando se vale a pena. Mas Daniel é mais rápido e acerta um soco na cara de um deles. O garoto revida e eles entram em luta corporal. O amigo de Daniel também entra na luta contra os outros. Os dois dão uma surra neles e então os covardes fogem correndo. Daniel grita para eles nunca mais encostarem no Igor. Eu corro para o lado do Igor e Daniel também, enquanto o amigo dele corre pedir ajuda. Eu olho para Daniel e agradeço. Ele sorri pra mim e diz:

-De nada Melinda!

-M-Melinda!?

Meu irmão indaga olhando para Daniel. Ele está muito machucado, mas está consciente.

-Você é irmão dela, certo?

-Sim, sou!

-Eu sou um amigo dela. Daniel.

-Impossível! Eu conheço todos os amigos dela e você não faz o tipo das amizades dela.

Daniel ergue uma sobrancelha para ele. E Igor diz:

-Considere isso como um elogio a você.

Daniel sorri e Igor consegue dar um meio sorriso. Eu cruzo os braços e reviro os olhos. Um professor e o diretor aparecem eles já sabem o que aconteceu e ajudam Igor a levantar para levá-lo até um pronto socorro. Quando estão saindo Igor faz um sinal de positivo para Daniel e ele retribui. Quando já estão distantes Daniel diz:

-Gosto do seu irmão!

-Claro que gosta!

Digo irônica.

-Que bom que você apareceu!

Ele sorri pra mim. E que sorriso.

-Eu pensei que não te veria mais.

Ele continua falando.

-Você não quer mais me ver?!

Pergunto desapontada.

-Não, não é isso! É que na verdade fiquei com medo de você não aparecer mais.

Ele diz isso e parece envergonhado.

-Eu só queria que você soubesse Melinda que eu sinto muito. Por tudo!

-Eu sei!

Digo.

-Sabe?!

Ele indaga e eu sorrio.

-Não pense que vai se livrar tão fácil de mim!

Brinco com ele. Ele ri e diz:

-Combinado!

Nos olhamos por um momento. Então o amigo dele chega e o chama:

-Daniel!

Ele se vira para o amigo e diz:

-Fala DJ!

DJ?Sério?

-Cara será que bateram na sua cabeça com muita força?

Daniel e eu olhamos confusos para ele.

-Eu podia jurar que você estava falando sozinho.

Eu e Daniel rimos.

-Qual a graça cara?!

-Nada DJ! Vamos para a aula.

Daniel coloca a mão sobre o ombro do amigo e os dois começam a se afastar em direção ao interior do colégio. Então no meio do caminho Daniel se vira para trás e sorri para mim. E que sorriso.

V^gW

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora