Capítulo Único - O Medo da Morte

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   A Morte sempre foi encarada com grande terror e desprezo pela Humanidade. Ou pelo menos pela Humanidade dos séculos mais recentes.

Mas a questão que eu levanto é: Porquê?

A vida tem um ciclo natural e constante para todas as espécies com quem tivemos o prazer e infortúnio de nos cruzar.

Nascemos, Crescemos, Morremos.

Sempre igual. Sempre constante.

Quero morrer. Sempre deixei isso claro. Quero que todas as pessoas a meu redor, e as que estão para vir, um dia cruzem os seus caminhos com a Morte. Tão essencial quanto a Vida. Tão natural quanto ela.

Sendo tudo aparentemente tão simples, então Porquê?

Pois, enquanto o Homem desenvolver um espírito individualista, vai sempre temer uma coisa em especial: A Dor.

Mas a Morte e a Dor não estão sempre diretamente ligadas. Imaginemos que um Alguém está vivo, assim como muitas outras pessoas. Mas este Alguém encontra-se com uma doença que lhe corrompe a sanidade e lhe destrói o corpo. Este Alguém está a lutar desesperadamente, numa cama de Hospital, com dores dilacerantes. Ninguém o pode ajudar. Ninguém, exceto a nossa tão conhecida Morte. Se a Morte o pode ajudar, então porquê continuar a lutar pela Vida? Afinal de contas, não estando vivo, o nosso Alguém nunca sentiria agonia. Não sentiria nada. Se queremos culpar algo superior a nós pela nossa própria Dor, ou pela Dor dos que nos rodeiam, culpemos a Vida. Pois é apenas com vida que se torna possível experienciar sensações tão abomináveis.

Então, porque é que este Alguém luta pela vida que sabe estar condenada? Talvez pelo medo do desconhecido. Não sei. Ninguém realmente sabe.

Este é apenas o exemplo de um Homem que teme o Desconhecido. Anteriormente, referi o medo da Dor. E é nela que me pretendo focar nos próximos Alguéns aqui referidos.

Vamos agora invocar os parentes e amigos do nosso Alguém já anteriormente referido – chamar-lhes-emos Gente Próxima. Não duvido que estas pessoas queiram que o nosso moribundo Alguém resista à sua derradeira salvação – a Morte – e viva mais uns miseráveis anos ou apenas meses junto deles. A final de contas, tudo o que esta Gente Próxima tem em mente é a sua própria felicidade. Esta Gente Próxima, sim, está a representar o que eu realmente pretendo demonstrar. O Medo da Dor. Não da Dor do próximo, mas medo da Dor que eles próprios irão sentir quando o nosso Alguém se vier a entregar à Morte. Medo da dor causada pela perda do ente querido que apenas irá causar mágoa à Gente Próxima, e a mais ninguém. Nesta ocasião, já é possível identificar a razão pela qual o Homem teme a Morte. Egoísmo. Desde que esta Gente Próxima sinta que tem ao seu lado quem necessita, está feliz. Tal egocêntrica felicidade seria reprimida apenas por dois motivos:

O primeiro, seria a consciencialização de que o seu tão intensamente amado Alguém, apesar de estar com a sua igualmente amada Gente Próxima, nunca seria feliz estando eternamente no seu agonizante sofrimento. Mas estas pessoas iriam realmente aperceber-se da amplitude da situação do seu Alguém? Ao ponto de não mentirem a si mesmos afirmando secretamente que o seu precioso Alguém está feliz ao se encontrar vivo, mesmo em tais cruéis condições? Algumas pessoas sim, outras não. Porquê? Todo o propósito de negarem a realidade, negarem a si mesmas e a todos os outros em seu redor, que o seu ente querido apenas estaria em pleno descanso longe delas para todo o sempre, seria com o objetivo de protegerem as suas fracas almas da realidade pura e crua. Para se afastarem o mais possível da Dor. O mais possível da Saudade.

O Segundo, seria a inevitável Morte.

Afinal, qual realidade poderia melhor despertar a consciência desta Gente Próxima da sua utópica fantasia? A Morte arrancar-lhes-ia qualquer esperança das egoístas almas desesperadas.

E credito que essa é uma das principais dores que as pessoas sentem e que as leva a temerem a Morte com tanta veemência. A Morte, a Ceifadora de Vidas, nada mais é do que um mau presságio para os que aqui ficam.

O Medo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora