Fuga

213 30 25
                                    

Paulo olhou o berçário e lá estava uma enfermeira.Bateu no vidro e pediu calmamente que esta, lhe deixasse carregar a menina. E ela permitiu.

- Sua filha e linda, senhor!

- Obrigado!

Paulo olhou aquele pequenino ser, sem saber o que fazer. Por um lado, sabia que devia amá-la,  afinal era sua filha. Contudo, tudo o que conseguia sentir em relação a ela, se resumia em uma simples palavra: pavor.

Tanto, que entregou- a a enfermeira rapidamente e fugiu dali. Quando Caio e os seguranças chegaram, já havia partido.

Saiu sem rumo pelas ruas, sem saber o que fazer. Como poderia viver sem seu amor e com aquela nenem, que fora responsável pelo fim de sua vida!?

Sua cabeça dava voltas e mais voltas. Estava cansado de pensar. Passou horas, andando a esmo. Até que chegou em sua casa.

Como doía estar ali, sem Marina. Sentiu como se seu coração tivesse sido rasgado em incontáveis pedaços, que jamais iriam se juntar novamente.

Foi até a adega, retirou um litro de whisky e, sentado no sofá,  durante um tempo incontável,  a tragou toda. Este seria o último lugar que seria procurado.  No entanto,  foi o primeiro em que Caio foi.

Ao encontrá-lo, o médico lamentou o estado dele. E, o olhou com comiseração.

- E aí doutor!?... A que devo a ilustre visita, a minha humilde residência!?

Percebendo a ironia, Caio, preferiu não dizer nada. E, o ajudou.

-Vem comigo!... Você está precisando de um bom e demorado banho gelado e de um café bem forte!

- O sempre correto, doutor Caio!... Você trepa,  Caio!?... Ou isto é contra os teus princípios!?

- Você está completamente bêbado! ... Nem sabe o que está dizendo!

-Trepa ou não trepa!?... Você nunca deve ter dado uma boa foda!... Fala a verdade!... Certinho como é,  nem deve dizer palavrão!

Caio não se deixou abalar. O levou para o chuveiro e deixou- o lá ; enquanto preparava um café bem forte.

Depois de alguns minutos no chuveiro, Paulo saiu envergonhado. Aos poucos, sua embriaguez ia passando e a lucidez voltando.

-Toma!... Bebe isto!... Vai te fazer ficar melhor!- estendeu a xícara.

- Está muito forte e amargo!

-Do jeito que você precisa, para curar a bebedeira.

- Nem sei o que te dizer!... Tudo isto que aconteceu, me deixou totalmente fora de mim!

-Você tem todo o direito de sofrer, pela morte de sua mulher,  Paulo!... Mas, este direito termina, no que concerne a sua filha!... Você não pode simplesmente, se dar ao luxo de esquecer que ela existe!... Pois, ela e apenas um bebe,  que esta órfã de mãe! ... E não pode ficar de pai também!... Amanhã ela terá alta, se Deus Quiser!... E, espero que quem vá buscá-la seja um pai sóbrio e amoroso!... E não um bêbado desprezível,  como acabei de ver aqui!... Agora eu vou embora!... Nos veremos amanhã! ... Tchau!

Ele foi embora, deixando-o desolado. Sabia que seu amigo tinha razão.  Porém sabia perfeitamente, que nunca conseguiria criar aquela menina.

Sabia que estava sendo covarde. Mas, não via outro jeito.

Arrumou suas roupas numa mala velozmente e seguiu para o aeroporto. Comprou uma passagem para o Japão,  que julgou ser longe o suficiente e embarcou.

Queria deixar o passado pra trás.  Mesmo que isto significasse abandonar a própria filha.

Amor Além da Vida( Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora