Terapia

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A mão morna passeava pela pele fria e molhada. Adentrando as roupas, ele contornou cada curva do corpo imóvel. Os olhos abertos pareciam feitos de vidro, cintilavam em contraste com a luz branca da sala. Ele estava lindo. E nunca mais seria tão lindo aos olhos do outro. O homem ajoelhado ao lado dele o contemplava com adoração, seu coração batia mais rápido, sua respiração pesava, completamente entorpecido pelas sensações que nunca tinha experimentado antes. Sua mão tocou a pele do rosto, parecia mármore, e o sangue que escorria da testa destaca a sua palidez. Sua frieza foi quebrada por alguns instantes por um beijo morno.

Mas ele não estava satisfeito. Não passou três meses o desejando para limitar-se aos beijos. O corpo estirado ao chão era pequeno e leve, suas roupas foram facilmente despidas pelo homem consideravelmente forte – apesar de sua magreza.

De frente para a nudez do garoto, o homem abaixou a calça, começando a se tocar. A vulnerabilidade em que o menino se encontrava o deixava ainda mais excitado. Estava ferido e quase desfalecido, mas ainda estava consciente. Era agora o único dono dele, nem mesmo o próprio tinha poder sobre si mesmo.

A penetração foi feita sem nenhum preparo e com extrema brutalidade. O homem queria escutar os gemidos de dor e suas súplicas, queria ver o sangue escorrer tão abundante quanto as lágrimas que desciam dos olhos pequenos e agateados. As expressões de dor que o outro fazia lhe davam um prazer inimaginável. Ninguém nunca entenderia o que se passava em sua mente, muito menos o que sentia. Deveras era uma mente doente.
Uma mente sem cura.

~~ * ~~

A lixeira de inox transbordava bolas de papéis amassados. Mais uma bola foi jogada com força sobre as outras, derrubando algumas no chão de madeira clara. Jeon Jeongguk nunca teve tanta dificuldade em escrever alguma coisa, nem mesmo quando tinha que fazer redações na escola. Ele era um bom escritor. Não era profissional, mas gostava de escrever suas próprias histórias e, especialmente, compor músicas.

Há dois meses, seria muito fácil compor um poema sobre sua vida e seus sentimentos. Escreveria sobre a paixão que carregava no peito, sobre a sua satisfação por ter passado na melhor faculdade de Seoul, sobre como tudo estava indo perfeitamente bem. Jeongguk não tinha uma vida perfeita, tinha seus problemas, mas depois que conheceu Jimin, seu atual namorado, o mundo se transformou em algodão doce e purpurina. Quando estressado pelas provas da faculdade, bastava um abraço e um beijo de Jimin para tudo ficar bem. O garoto era como uma varinha de condão, transformava qualquer abóbora em carruagem. Seria muito fácil fazer aquela pequena – aparentemente – tarefa imposta por sua psicóloga, se sua vida ainda fosse a mesma de dois meses atrás.

Mas tudo mudou drasticamente.

A universidade de Seoul não era só o melhor lugar para se formar, ela era a toca de um lobo. O lobo mais poderoso e influente da universidade, o diretor Kim Sejong. Um homem muito culto, inteligente e jovem para seu alto cargo. Muito admirado e respeitado pelos professores e alunos da universidade. Ninguém sequer imaginava o que estava por trás daquela máscara de bom homem. Sejong era uma pessoa suja, fedia a carne podre. A lembrança de seu rosto, voz e cheiro, davam a Jeongguk um enjoo terrível.

Lembrava-se sempre da mão áspera alisando seu corpo, dos lábios lhe tocando com uma euforia brutal e do sexo lhe rasgando. Quarenta minutos que jamais sairão de sua memória, não importa quantos anos vivesse. A lembrança do seu estupro seria a mais viva de todas, mais forte do que qualquer lembrança boa. Era um dia que estaria marcando a ferro em sua alma. Traumas que poderiam durar até mesmo encarnações.
Jeongguk preferia ter morrido depois do ato. Queria que o diretor fosse um assassino também, que tivesse quebrado o seu pescoço ou o sufocado até a morte. Estaria agora enterrado em qualquer jardim ou no fundo do mar. O que, para ele, seria melhor do que estar onde agora estava. Estava morto em vida, seus sentimentos haviam morrido. Não sentia mais nada além da dor e do nojo. Nojo daquele homem, nojo do mundo, nojo de si mesmo. Se estivesse morto, pelo menos não sentiria nada. Sejong foi tão covarde que o deixou viver com a cruz de ser uma vítima de estupro.

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⏰ Última atualização: Sep 30, 2017 ⏰

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