Carlos Eduardo - Não acredito

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─ Não acredito que o gurizinho da mamãe resolveu se mudar? Largou a barra da saia? Ou vai atrás de um rabo de saia? – Meu irmão veio passar o fim de semana. Última tentativa da minha mãe de me convencer a não ir. Mal sabia ela que Carlos Henrique era o meu principal incentivador.

─ Não enche, Caê. – Joguei umas caixas nele. – Vê se faz alguma coisa que preste. Coloca meus livros aí dentro. Não tire da ordem, por favor.

─ Nossa! Que metódico! – Começou a ajudar. – Mamãe disse que você está de cacho com a tal atriz... – Puxou assunto.

─ Mamãe diz que vai ter um infarto se você não reatar seu namoro com a filha do prefeito de POA...

─ Hei! Sem pedras nas mãos. Sei que não dá para confiar em tudo que a Dona Débora diz, mas não posso negar que tinha um climão no ar quando fui buscar vocês naquele baile funk...

─ ... – Não tinha o que dizer. Eu mesmo não entendia o que acontecera naquele baile. Meu silêncio foi tamanho que Caê começou a me encarar de maneira esquisita.

─ Irmãozinho do meu coração, já que você é essa caixa blindada antissentimento, fala para mim pelo menos uma coisa: você se sente atraído fisicamente por ela?

─ Até demais... – Respondi sem precisar pensar. Meu corpo inteiro estremecia quando ela estava nos meus braços. Era uma luta me conter, quanto mais intimidade tínhamos, mais difícil ficava. Eu imaginava todos os encaixes perfeitos entre nós dois em cada passo de dança, em cada pose que fazíamos, em cada respiração mais profunda. Eu lutava contra o desejo em todos os ensaios. Mas eu jamais diria isso para o meu irmão. Eu não falaria sobre isso com ninguém. Eu não tratava disso nem comigo mesmo.

─ Graças! Pensei que tu fosses um enrustidão? E vocês...? – Insinuava.

─ Não. De jeito nenhum. Não é certo.

─ O que não é certo é um homem perder a cabeça por não controlar seus instintos e sair por aí beijando a namorada dos outros. – Carlos Henrique estava bem informado. – Deixe essa elevada moral de lado e resolva esse seu problema de uma vez. – Ele se levantou e balançou minha calça jeans bem na altura do meu pênis sem cerimônia. – Se não for com ela, que seja com outra garota qualquer que esteja a fim. Porque esse seu mau humor, meu querido, é gala seca. Se chegar na cabeça, você explode.

Meu irmão saiu do quarto. Ele sempre me surpreendia pela elegância. Olhei para a caixa de livros que ele estava guardando. Tirou todos da ordem. De propósito.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora