Bruna - Você tem ferro de passar?

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─ Você tem ferro de passar?

Carlos Eduardo me aparece sem camisa na porta de casa. Sete horas da noite de sábado. Eu com hidratação no cabelo e máscara firmadora de pepino no rosto. Ele nem pareceu perceber minha cara verde. Foi entrando.

─ Tenho que passar essa camisa... – Apontei para onde ficava o ferro e ele começou a mexer nas coisas da minha lavanderia até achar. – Não queria ir na casa da minha mãe só para isso. – Era impossível não sentir o orgulho com o qual ele disse "casa da minha mãe".

Puxei a máscara delicadamente. Ele foi montando a tábua e enquanto o ferro esquentava, roubava os palitinhos de cenoura que eu estava jantando.

─ Você nunca come comida de verdade? – Abriu minha geladeira em busca de alguma coisa menos light. Perdeu seu tempo. – Nossa, Bruna, sua geladeira tem menos coisa do que a minha que eu liguei hoje.

─ Vem cá, lindão, quem mandou você vir aqui mexer nas minhas coisas, comer minha comida e reclamar da minha dieta? – Briguei com ele. Carlos Eduardo só sorriu e continuou a passar a roupa.

─ Podia ter pelo menos uma maionese light para molhar essas cenouras...

─ Eu mereço. – Peguei a maionese na geladeira. – Toma. – Ele pegou logo três palitinhos e passou na maionese. Ficou comendo. – Quer que eu passe a camisa?

─ Se você quiser, não vou me incomodar...

─ É folgado, né? Pois agora eu quero ver você queimar essa camisa...

─ Ah! Você acha que só porque eu nunca morei sozinho não sei passar roupa? – Ele ria que gargalhava. – Você está tão enganada. O regime de comando de Dona Débora era militar. Tanto eu quanto meu irmão fazemos qualquer coisa dentro de casa. Do tanque à mesa.

─ E eu que achava que sua mãe não tinha qualidades. Todo mundo tem, não é mesmo? – Nem se irritou com o meu comentário sobre a sua mãe. Simplesmente passou a camisa com perfeição. Queria dar uma medalha a Dona Débora pelos serviços prestados à sociedade.

Vestiu-se na minha frente, enquanto eu me divertia em contar os gominhos do seu abdômen sem me poupar de imaginar como seria se ao invés de estarmos colocando aquela roupa, estivéssemos tirando. Ainda bem que eu estava usando meu pijama mais surradinho, ele ajudava a cortar meu tesão. Se fosse uma camisola bordadinha, talvez eu me atrevesse de alguma maneira.

─ Hoje tem show na Atmosfera. Você vai? – Ele me perguntou enquanto colocava a gravata.

─ Não tenho ingressos... – Brinquei.

─ Cinquenta contos na minha mão e te coloco para dentro. Conheço o dono.

─ Tenho programa melhor, querido. Boca livre na emissora. Festa interna de lançamento da novela.

─ Ah! Sendo assim, a protagonista não pode faltar...

─ Não seria nem elegante da minha parte.

─ De maneira nenhuma. – Terminou de se arrumar desajeitando o cabelo no meu espelho da sala. Pegou seu colete e foi em direção à porta. – Boa sorte, Senhorita Protagonista.

Despediu-se com um beijo no meu rosto. Como eu não estava preparada, mexi depressa demais e ele acabou encostando na pontinha da minha boca. Foi eletrizante. Ouso dizer que para nós dois. Pois ele ficou olhando para mim sem saber o que fazer, mordendo o lábio.

─ Vai logo, Kadu. – Eu o empurrei porta afora.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora