Carlos Eduardo - E aquela ali?

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─ E aquela ali? – Carlos Henrique me apontava a décima menina. – Ela não para de te encarar. – Depois da entrevista na revista, trabalhar virara sinônimo de assédio. Essas garotas leem contos de fada demais, todas querem ser a Cinderela, nem todas têm a elegância de uma princesa. Praticamente jogam seus "sapatinhos" na minha cara. Eu ficava na minha a maior parte do tempo, esperando ansiosamente que a moda passasse e eu pudesse voltar a trabalhar em paz.

─ Estou trabalhando, não está vendo? – Eu estava no bar verificando o estoque. Meu barman me falou que a vodca estava saindo mais do que o de costume hoje, talvez eu precisasse subir e pegar mais algumas garrafas.

─ Você tem certeza de que vai tentar essa desculpa logo comigo? – Meu irmão era multitarefa nesse sentido, a casa poderia estar pegando fogo, ele sempre arranjava tempo para as mulheres bonitas.

─ Não é desculpa. Eu simplesmente não tenho tempo. – Era desculpa sim. A casa estava totalmente sob controle. Mas eu não estava com a menor vontade de flertar com ninguém. Em verdade, eu só queira chegar em casa, na minha casa. E quem sabe ouvir uma série de histórias engraçadas que certamente minha vizinha teria para contar.

Porém, ainda faltavam umas boas horas para a Atmosfera fechar. Pelo menos, a música era boa. Um forrozinho gostoso de dançar colado. Imaginei mil passos para fazer com Bruna, vê-la girando nos meus braços com aquele sorriso lindo. Só então me dei conta de que o tango seria nossa última coreografia. Já começava a compreender que eu deveria ser o cara mais idiota do mundo para dispensar Bruna "Delícia" Drummond.

─ Olá, meninos!

─ Ah! Olha quem está aqui, Kadu? – Meu irmão subiu no balcão para dar um beijo no rosto de Soraya. – Sua parceira.

─ Ex-parceira. – Ela fez questão de frisar fazendo beicinho. – Seu irmão não me quis mais... Você acredita?

─ Isso é verdade, Kadu?

─ Não é bem assim... – Disfarcei.

─ A parceria de vocês acabou? – Caê tinha um poderoso poder de síntese. Simplificava qualquer questão metafísica em uma frase. Para ele, tudo poderia se reduzir a sim ou não.

─ Sim. Acabou. – Retomei meus afazeres. Não perderia meu tempo tentando explicar uma situação que nem ele, nem Soraya, tinham intenção de compreender.

Carlos Henrique me olhava como se eu estivesse torturando filhotes de focas albinas. Soraya era o tipo de mulher que sabia explorar as falhas de caráter de caras como meu irmão. Ficou chorando as pitangas para ele por tanto tempo que perdi a conta. Foquei no trabalho.

Quando dei por mim os dois haviam sumido. Maravilha! Se Carlos Henrique conseguisse distrair Soraya com uns beijinhos, eu ficaria devendo essa a ele.

Eu não poderia estar mais errado. De repente, o som para e a voz do meu irmão ecoa pela boate. Um feixe de luz vem bem em cima de mim.

─ Senhoras e senhoras, para o nosso deleite, diretamente da televisão, numa apresentação única, o rapaz que conquistou o coração dos telespectadores com sua dança. O dono da festa: Carlos Eduardo. – Os flashes dos celulares só faltaram me cegar. Depois da revista, a casa estava cheia de garotas que vinham para me ver dançar. Que vinham tentar arrematar com um decote e um beijo a fortuna dos meus pais.

Meu irmão armara a armadilha mais perfeita. Eu não poderia deixar de dançar. E por conta dessa dança, a casa ficaria a cada dia mais cheia de garotas em busca desse "príncipe encantado" aqui. Carlos Henrique conhecia as manhas do negócio. Era o melhor de todos nós no quesito entretenimento.

Não tive outra escolha além de conduzir Soraya até a pista de dança.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora