Carlos Eduardo - Pensei que a minha noite tinha sido difícil

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Pensei que a minha noite tinha sido difícil com toda aquela pressão, com o mal-estar na minha família, com as declarações intempestivas de Soraya. Nada disso se comparava com a noite de Bruna.

Ela me contara sobre o comportamento de sua agente. Por mim, ela já teria colocado essa mulher para correr faz tempo. Uma exploradora sem sentimentos. Usava a imagem de Bruna sem pestanejar. E que imagem? Fazia um bom tempo que ela não aparecia na televisão como algo além de um belo corpo a ser exibido à exaustão. Bruna tem muito talento dramático, é uma atriz dedicada, apesar do seu belíssimo corpo, ela tinha muito mais a mostrar, mas Daniela não parecia preocupada com isso, contanto que a garota continuasse a fazer comerciais.

Os olhos da minha vizinha brilhavam com a possibilidade de fazer uma personagem cadeirante. Claro que ela era uma mulher estonteante. Eu que o diga. Mal conseguia raciocinar direito perto da sua camisola verde-água e do cheiro dos seus cabelos lavados. Entretanto, enquanto ela tentava me convencer da sua capacidade interpretativa, enquanto ela sorria, totalmente tocada pela empolgação de fazer seu trabalho, coisa que ela amava fazer... Bem, eu nunca havia a visto tão linda. Eu simplesmente não conseguia tirar meus olhos dela.

─ O que você acha, Kadu?

Despertei do meu encantamento. Eu precisava aproveitar a oportunidade e falar o que eu pensava.

─ Acho que você deve tentar o papel. – Disse decidido. – Não sou lá um grande fã da Daniela. Você sabe disso. Além do mais, acho que está na hora de você procurar outros desafios e deixar de se expor tanto assim fisicamente.

─ Você acha que eu sou vulgar, não acha? – Ela se zangou. – Comparada com a Princesa Milena, eu sou apenas uma exibida, não é mesmo?

Aos poucos, eu estava começando a perceber que por debaixo de tanta confiança, Bruna era apenas uma garotinha frágil, com uma autoestima dilacerada por uma série de abandonos. Por isso, para ela, era tão difícil receber críticas, não tinha defesas emocionais. Expunha o corpo para não expor suas fraquezas. Seus defeitos. Seus limites. Precisava desse corpo perfeito, irretocável. Precisava dele para defender a alma.

─ Escuta aqui, - eu me levantei e segurei o rosto dela, forçando o contato visual – você tem no seu dedo mindinho mais dignidade do que boa parte das meninas que já conheci na vida tem no corpo inteiro. – Uma lágrima rolou no rosto dela. – Eu só queria que você acreditasse um pouco mais nisso.

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora