Minha geração problema

Capítulo 35

  Eu gostaria de dizer que o resto da semana passou lentamente. Tipo meu pai quando minha mãe o manda fazer alguma coisa e ele está acomodado no sofá. Até movimentar um músculo que seja de seu corpo ele leva mais tempo do que o homem para chegar a lua. De qualquer forma minha semana foi exatamente o oposto dele, foi mais minha mãe em dia de liquidação na loja de dez reais, não há uma peça de roupa que fuja de seu olhar vasculhador. Nesse contexto eu me sentia uma blusa qualquer observando todo o desenrolar dos dias.

  De qualquer forma, ainda fui obrigada a fazer aquelas atividades malucas das quais nunca saberei a finalidade. Tive que aguentar uma Dra. Cris elétrica com a internação em seu período final, e uma Vanessa alegre e saltitante com os preparativos pra nossa despedida. Sim, isso mesmo, despedida. Segundo ela não existe nada melhor do que encerrar um período glorioso senão com uma comemoração alegre, isso incluía comida, doces e balões. Eu me sentia praticamente  em uma preparação para aniversário de criança, o que não era de todo ruim, festas infantis são classificadas por mim como as melhores. A comemoração seria amanhã a noite já que no dia seguinte, exatamente as oito horas da manhã os portões seriam abertos para a nossa partida. Eu provavelmente sairia daqui lá pras dez já que pontualidade não faz bem parte do dicionário da minha família.

  Porém, até a noite de amanhã chegar ainda haviam muitas horas pela frente, e com isso eu quero dizer, muita ocupação.

_Eu já disse que odeio correr? -perguntei enquanto tentava acompanhar o alongamento do grupo, aparentemente eu era a única que não conseguia colocar os dedos da mão no chão

_No mínimo uma cinco vezes no último minuto -Arthur murmurou depois de Valentina, a minha direita- e sim, eu contei.

_Você também odeia o sol, e o suor, e qualquer outra coisa relacionada a se movimentar pela manhã em um dia quente -Valentina completou mostrando em seguida, por meio de um alongamento, que os vários anos de balé lhe renderam algum resultado- por mais que algo me faça acreditar que, se estivesse fazendo  frio você estaria reclamando do mesmo jeito.

  Encaro a garota ao meu lado indignada, mas tenho que admitir que isso tem lá sua verdade. O clima é apenas um fator que eu costumo levar em consideração nesses casos, o fato de eu não estar na cama por si só já é um problema.

_Você precisa abandonar o sedentarismo, não faz bem -Benjamin murmurou comprovando que não só o balé era capaz de transformar uma pessoa em mola- tenta esquecer um pouco os pontos negativos -olha, é dificil, porque eu tenho que dizer, não são poucos- foca no que tem de bom ao seu redor. No dia bonito, nos passarinhos, nas árvores, no perfume das flores e do campo, deste silêncio -Benjamin fechou os olhos como se estivesse absorvendo toda a atmosfera ao seu redor. Uma sucção de toda a energia positiva que ele pudesse armazenar- Lembre-se que existem coisas boas nos lugares inesperados.

  Olhei um pouco ao redor, a grama da campina havia crescido um pouco, mas não o suficiente para incomodar, as flores no Jardim, incluindo algumas roseiras que havíamos plantado, espalhavam um perfume silvestre pelo local. Haviam mesmo passarinhos no alto das árvores pulando de galho em galho como em uma dança ensaiada. A música acompanhando seus passos. Tudo parecia muito calmo e, estranhamente, familiar. Era como se eu conhecesse aquele lugar a anos mesmo que estivesse confinada aqui a um mês.

Eu me senti bem.

Olhei para Benjamin que abriu um sorriso em minha direção. Tudo ficava ainda mais bonito quando ele sorria. Me permiti sentir aquela energia positiva que emanava de todos os lugares e por um momento esqueci que a minutos antes era a Alexia reclamona de sempre. Esqueci até mesmo o propósito cansativo pelo qual estava ali. Era apenas a natureza e eu.