A manhã surgia entre os pequenos prédios e casas de Birmingham. Os feixes dos raios de sol reluzia no para brisas da Camionete e penetrava as janelas de vidro, atingindo o rapaz que dirigia, agradavelmente — exceto pela janela do passageiro que se permanecia abaixada.As conversas foram as mais diversas entre Norton e Katrine Filardz, desde assuntos profissionais, de como seria trabalhar como CEO de cosméticos e de realmente como seria ser um CEO, dos assuntos familiares que Norton se sentiu invadido por tentar explicar superficialmente o caso da sua ex e sobre saúde onde Katrine deixou escapar que tinha Lupus. Norton não conhecia essa doença, o que levou a pensar bastante enquanto dirigia. Não demorou muito, uma pequena parada em um drive-tu quando já havia sinais do amanhecer e o assunto sobre a comida foi instantânea, ainda mais quando Yallow acordou, quebrando o gelo dos desconhecidos.
Katrine já fazia alguns retoques em seu rosto com a maquiagem que carregava consigo dentro da bolsa.A camionete então parou. Norton estacionou próximo ao uma fachada de um prédio de médio porte, exatamente como Filardz havia dito. A moça frisou algumas vezes descabida para o rapaz que não precisava se incomodar e que daria certo deixá-la na entrada da cidade. Em vão.
- Bom... é aqui que eu fico - falou Katrine sorrindo elegantemente para Norton que retribuiu gentilmente - agradeço demais Norton por me ajudar. É bom saber que há pessoas assim como você pelo mundo. Agora... agora cobrarei meus direitos sobre o reboque do meu carro. Muito desrespeito.
- Certamente - disse Norton - não precisa agradecer, eu fiz o que outra pessoa faria.
- Não, sabe que nem todos são assim.
Os dois sorriram por estantes. Parecia que qualquer assunto entre eles prolongado por muito tempo era motivo de sorrisos. Seria normal acontecer isto entre dois estranhos.
Katrine olhou para Yallow admirando tamanha doçura era aquela criança dormindo e pegou-se pensando: Um homem de bom caráter e ainda sim, pai, viajando Estado afora em busca de uma nova aceitação, uma nova vida, longe de uma vida conturbada. Em meio a sua correria com palestras e administrações, encontrar cenas atípicas - pra ela - como esta, era realmente de prezar.
Outro pé foi colocado pra fora da camionete e o som de travamento da porta foi soado. Um breve sorriso e um "tchau" foi dito pela boca de Norton e outras palavras pela Katrine. Tais como "tchau, se cuidem, manda um abraço para a pequena Yallow".A partida foi dada e camionete se deslocou lentamente até pegar seu rumo outra vez. Lembrou-se em olhar no retrovisor, exatamente como fez quando deixou Bloomington no dia anterior, quando se despedia visualmente da casa onde teve muitas lembranças. Estava lá Katrine estendendo o braço para um adeus, em seguida entrou, passando pela porta giratória.
O Chevrolet foi se distanciando até sumir entre os prédios e casas do local.Entre varridos e sacos pretos suspensos a cada esquina de Florianópolis, os moradores, já acostumados naquele ritual matinal em toda vez que o outono chegava, juntavam as folhas secas das árvores caducas, em um amontoado recolhido das calçadas e das ruas. O trabalho coletivo fluía perfeitamente. Algumas crianças em meio aos adultos insistiam em ajudar, enquanto outros - especificamente um casal de idosos - montava uma banca improvisada abaixo do alpendre onde morava. O senhor carregava todo dia a mesa da sua cozinha até ali para sua mulher cobrir com panos de mesa que produzia artesanalmente. Serviam algumas porções do pão de queijo que o próprio Sr. Dionísio preparava lá pelas quatro horas da manhã e uma garrafa de café tradicional. Mesmo Dionísio indo contra a cota, no fim da manhã os moradores restantes se juntavam e contribuíam para o próximo café da manhã.
Em frente à casa dos idosos, ficava a de Josh. Depois de uma enorme bagunça da noite anterior, a casa estava normalmente em silêncio. Devolveram o silêncio para ela. Tudo estava em seus lugares, os moveis poucos movidos dos lugares, alguns balões de ar retirados dos cantos da parede e as louças amontoadas na pia, pareciam estar limpas e organizadas. O vento corria pela casa, soprava as cortinas livres de nó, refrescava toda a casa. A televisão ligada, porém não saía nada, estava no modo mudo. Seria um silêncio total pela residência se não fosse pelo agradável acorde que saia daquele violão velho e marrom e cortava a serenidade.
Era Racheu. Acordou mais cedo do que nunca. Havia quase passado a madrugada toda acordada, exceto por algumas cochiladas feitas durante o período. Estava encantada com o presente da viajem, não passava pela sua cabeça que quando ela viria, não seria assim tão rápido. Sabia que seria uma viajem para conhecer uma instituição de estudos e logo mais voltaria, mas, no fundo, sabia também que seria uma oportunidade para conseguir algo a mais. Era como ter a felicidade e o receio de deixar todos do Brasil para trás dentro de si mutuamente, então seria como se abandonasse a luta que ela travava constantemente para um Brasil melhor.
Cada dedilhada em uma daquelas cordas, era um turbilhão de pensamentos.
Racheu havia passado uma boa parte da noite conversando com seu pai, após os convidados terem ido embora, desejando boa viajem. Era loucura viajar já em cima do dia. A causa disso foi de Josh ter segurado as passagens até o aniversário da filha e ele se sentiu culpado por isso.
Mas Josh Adams conseguiu tramar direito. Havia pedido um terço de suas férias e a diretora do colégio de Racheu também sabia dos planos e liberou com prazer a viajem da aluna. Era um patamar a mais que ela poderia dar nos estudos. No fim, após a zorra completa do vai e vem da correria, conseguiram fechar as malas para viajem e o cozinheiro conseguiu pousar suas pernas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Nós (Revisando)
Fiksi IlmiahO que fazer quando aqueles que nos vigiavam cada passo nosso aqui na Terra, o que fazíamos, o que comemos, nossos atos fúteis, o nosso jeito de "desperdiçar" a vida, descerem em nosso solo? Seria o ápice da desordem humana. Nesta obra trago emoções...