Não tenho mais Primavera em mim
Só o ar frio do Inverno carrego
Congelando aos poucos
Perdendo o gosto da vida
Afundando no mar sem fim.
Não há mais Verão, acredito
Há quanto tempo não o sinto
Na minha velha pele?
No vazio do meu lar
Da minha vida, do meu ser
Arrasto-me cada dia
Sem verdadeiramente me arrastar
Pois não tenho destino
(nunca terei, Deus não me deu um)
Nem tenho nada que me dê
Prazer, vida, felicidade, calor.
Tanta poesia que escrevi
Tantos poemas que li, ouvi e cantei
E continuo a sentir-me
Como um invisível na multidão.
E cada hora que o Tempo dá
Dou uma passada para o fundo
E cegamente continuo,
De livre vontade, talvez,
Pois não tenho mais casa que não
Esta
Não tenho mais vida que não
Esta
Não tenho mais amor que não
Este
Estou cansado de respirar, de acordar
De dizer que sou aquilo que nunca fui
Ser vivo, humano alegre...
E talvez um dia, quando chegar
Ao fundo deste infinito mar,
Me sinta verdadeiramente em casa
E diga adeus à vida de
Dor e solidão.
-JM