Que.da [substantivo feminino]
1. Ato ou efeito de cair: levar uma queda.
2. Figurado: Ato de ruir, de desmoronar; decadência, ruína: a queda de um império.Também conhecido como o curto período em que Ann Seward tentou se manter viva em uma cruel e desgastante sociedade.
:(:(:(:(
Ela era como todos. Carregava uma grande melancolia em seu peito, um receio que veio a se concretizar de tanto pensar nele. Ela era a garota que você vê passando pelas ruas, apressada, desviando-se de todos os que surgem. Ela era a garota que ninguém vê, ou que quase não é notada, apenas esquecida, nunca relembrada. Ela era um ser humano, como eu. E você. Ela era uma adolescente qualquer do século vinte e um, assustada, triste e destruída.
Mas ela deveria ser um robô. Ela deveria ser perfeita, intocável, inocente e manipulável. Ela deveria ser um projeto rabiscado de uma cópia surgida a tempos. Ela deveria ser uma boneca que respira, se veste, se maquia. Ela deveria ser o que queriam que ela fosse.
Mas ela era como eu e como você.
Ela se sentia perdida. Sem rumo, desiludida. Ela se sentia um desperdício. Alguém descartável. Inútil. Alguém desnecessário.
Talvez fosse essa a razão de sua escolha. Talvez pensasse que se livrava de um fardo. Um peso nas costas que lhe fora empurrado. Porque Ann nunca quis aquilo. Ela nunca quis odiar sua imagem no espelho, sua personalidade gritante ou seu gosto anormal. Ela queria se amar. Mas eles não queriam que ela se amasse. Ela queria ser feliz. Mas eles não permitiam aquilo. Eles não autorizavam a plenitude de ninguém.
Então, aos poucos, ela perdeu sua alegria. Perdeu a essência de sua vida. Perdeu sua alma. E ninguém se importava. Porque era o que eles queriam. Em um ponto, isso foi demais. Demais para alguém frágil como Ann Seward lidar.
E a decisão mais dura foi feita por ela. Uma decisão que não deveriam forçar alguém a fazer. O fim, a inevitável escuridão chegou. O irremediável aconteceu.
Seu corpo foi encontrado as duas da manhã. Jazia serena em sua cama, mesmo que ninguém soubesse o quanto ela se arrependia de sua escolha. Mesmo que não soubessem porque aquilo aconteceu. Mesmo que se julgassem inocentes de um crime que não sabiam que haviam cometido. Porque aquela morte não fora um suicídio, mas sim um assassinato. Um assassinato sem rosto definido, sem culpado exato, sem uma causa imediata.
A queda era algo inevitável na vida de Ann Seward. Assim como será inevitável na minha. E na sua também.
FIM.
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fall | conto.
Short StoryA queda parecia inevitável no mundo de Ann Seward. a proundlmj tale, all rights reserved, 2017©