O Início

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A criação, o big bang, a humanidade desde que virou uma comunidade pensante começou a se questionar “como surgiu o universo, como surgiu a terra?” e isso vem sendo discutido até os dias de hoje fazendo uma guerra entre a ciência e a religião. A ciência defende a hipótese de um mundo evolutivo na qual foi criado a partir de uma explosão assim formando o sistema solar dentre todas as outras coisas dentro do universo, a Terra iniciou como uma bola de fogo, terra e metais misturados formando uma massa borbulhante, milhares de anos se passaram até a Terra se transformar no que ela é hoje. A religião defende a hipótese de um mundo criado por um ou mais seres supremos ou deuses, um lugar para ser perfeito para os humanos e os animais, para que toda criatura viva deste mundo os adorem e vejam quão bondosos eles são. Eu defendo a criação pelo meio artístico misturado com um acidente, digo até que por vaidade e egoísmo do Destino.
Destino. Há muitas representações dele hoje em dia, mas para contar essa história vamos usar a versão original dele, uma criatura, Destino é uma criatura alada que lembrava um grifo, com exceção das garras de ave, do bico e rosto de uma águia, tudo bem isso quer dizer que ele não lembra quase nada a um grifo, Destino tinha patas silenciosas, tão suaves e belas de um leão, o corpo altivo de um lobo com pelos claros que se estendiam por sua enorme cauda que trazia na ponta os pelos maiores, o que lembrava muito um pincel, as asas que se estendiam de suas costas eram poderosas e majestosas muito parecidas com as asas de uma coruja das torres, o rosto lembrava muito o de um dragão, porem havia penas no lugar de escamas até mesmo a coroa do dragão que deveria ser da extensão dos seus ossos faciais como espinhos, neste animal eram penas douradas com pontas azuis que lembravam safiras como as da coroa de um rei, os olhos de Destino eram amarelos como de uma cobra podendo hipnotizar os desavisados que o observam por muito tempo, entre seus olhos em sua testa Destino carregava uma pedra oval de ouro, era lá onde ele guardava suas tintas, sim suas tintas, Destino era um hábil pintor e é por aí que a história começa. Não se sabe de onde ele veio e como surgiu, muito menos quando, creio que nem mesmo ele saiba responder essas perguntas, mas a criatura estava lá no meio da vastidão negra brincando com suas tintas, Destino desenhava nuvens, dava forma a elas com seus traços vaidosos e depois se divertia com o resultado, mas isso não foi o suficiente para sempre, o tempo passou e a graça nessa pequena brincadeira acabou e ele se viu entediado e solitário já que era único naquela infinita noite, começou então a perceber que sua arte não teria valor se ninguém estivesse ali para apreciar além dele. Logo uma ideia clareou seus pensamentos como os primeiros raios de sol iluminam as planícies diante das montanhas, ele poderia dar vida a sua arte e os tornar seus companheiros para assim alguém apreciar sua arte junto dele, isso seria fácil pensou a criatura.
O pincel cortou o céu e logo curvas e traços começavam a se formar, doze estranhos esboços foram feitos e doze esboços se tornaram silhuetas delineadas de forma caprichada, então de um a um os pequenos detalhes foram sendo acrescentados, erros corrigidos e atenção totalmente focada no trabalho, Destino estava tão focado em sua nova criação que perdeu a noção do tempo e nem precisava dele já que o artista e suas doze criações eram os únicos ali, após estar satisfeito com as suas doze criações Destino limpou o pincel e analisou tudo calmamente, tinha feito um belo trabalho, ninguém pode presenciar o primeiro sorriso da criatura enquanto ele pegava uma de suas tintas, essa era uma das especiais, a prata da vida, um nome era desenhado em cada uma das criaturas e assim os pares de olhos de cada um foram se abrindo, doze expressões curiosas se viraram para Destino e então doze sorrisos se abriram, não eram necessárias apresentações todos ali já se conheciam desde o primeiro traço e todos sabiam o motivo de serem criados e só podiam esperar ansiosos a próxima criação do artista, o que não demorou muito já que Destino estava animado para apresentar suas obras aos seus filhos. Cores, traços, formas, Destino estava inspirado com suas novas obras, principalmente com seus novos expectadores atentos ao menor movimento do pincel, desde o menor detalhe até o conjunto final, as expressões de fascínio de todos ali presentes eram marcantes na memória da criatura, em seu quadro infinito Destino aprendeu a gostar de ousar com suas tintas sem pensar nas consequências que seus poderes poderiam exercer sobre elas, foi assim que resolveu desenhar o tempo, o dividindo em três quadros com molduras diferenciadas. A primeira tela era de um tecido antigo, manchado e levemente desfiado, onde a tinta descascava ou apresentava cores estranhas devido ao tempo, a moldura que o cercava era feita de madeira antiga, gravetos e flores mortas, a batizou de Passado, onde se encontraria as perdas, frustações e o esquecimento pintados na tela, tudo que um dia foi valioso e se perdeu poderia ser encontrado na moldura do passado. A segunda era de um tecido misto, ora feita de fios fartos e de boa qualidade ora de um fio fino e de difícil aderência da tinta, as tintas que tomavam conta dessa tela também eram diferenciadas, ouso até dizer que um tanto curiosas, a tela era mergulhada em cores quentes e frias, com traços e formas delicados quase como se tivesse medo de ousar, medo de possivelmente errar, apesar de todo esse cuidado ainda tinha certos borrões na tela, alguns até com algumas tentativas de concerto, a moldura da tela era simples e manchada de tinta, algo monótono guardando algo que instigava o interesse e curiosidade, isso lembrava muito uma caixinha de surpresas onde se gira a manivela para descobrir o que ela guarda em seu interior, alguns dão risada do resultado enquanto outros se assustam com o salto do palhaço sorridente de brinquedo, Destino batizou então a tela de Presente, onde se encontraria a vida em seus mais variados tons, onde as escolhas teriam formas e as consequências determinariam o resultado da pintura, se algo belo ou mais um borrão qualquer, todas as lagrimas que caem um dia lavaram a moldura do Presente para que os novos sorrisos a manchem com cores vivas novamente. A terceira tela parecia não ter fim e era muito mais rica do que as outras duas, seu desenho era composto de curvas vaidosas e com certa ousadia, podia até mesmo dizer que os traços carregavam paixão e uma grande carga de intenções desejosas, alguns desenhos não passavam da etapa inicial e isso era uma grande pena já que poderiam se tornar uma grande obra na tela do Presente, porem resolveram habitar eternamente nas sombras borradas da tela do Passado tendo toda sua essência aprisionada em sua moldura, outros eram pintados com cores nobres abusando da criatividade e admiração, mas nem sempre essa tela é bela, em algumas partes seus traços vaidosos se tornam rabiscos grotescos que misturam as cores mais frias para destacar uma quente em especifico, o carmesim, essa tela foi batizada de Futuro e nela se encontraria os sonhos, desejos e maiores ambições por mais sombria e cruel que seja, tudo estaria lá aguardando um espaço no Presente, a tela não possuía uma moldura já que não seria finalizada, porem era exposta em um cavalete de madeira bem reforçado, a esperança é como o cavalete do Futuro, o tempo e os cupins iram tentar devorar a madeira, se ela não for reforçada irá ruir e a tela desmoronar sobre as demais, acabando então com a exposição das três belas telas do tempo.
Suas novas telas eram intrigantes, suas doze criações começaram a achar que seu criador estava obcecado demais em sua arte e assim aos poucos foram se distanciando de suas telas, começaram a se comunicar e descobriram que também tinham algum talento como seu criador, a diversão não estava mais em apreciar as obras do seu criador e sim em descobrir do que eram capazes, Destino ao descobrir o que suas criações estavam fazendo sentiu um sentimento perverso crescer dentro de si, afinal a criatura era egoísta e como uma criança teimosa não iria mudar tão cedo, pegou novamente suas tintas e misturou a prata da vida nelas, diante da tela do Presente e com o coração cheio de remorso Destino pintou suas doze criações não pensando novamente nas consequências que aquilo iria gerar, uma a uma as criações de Destino foram sendo presas por linhas que saiam da tela do Presente, como marionetes manipuladas pelo Destino para atender suas vontades egoístas. Agora suas doze criações eram postas diante das suas obras porem já não tinham mais o brilho no olhar ou os sorrisos de admiração, eram apenas doze expressões fechadas muitas vezes olhando para o nada, isso resultou em uma criatura irritada a procura do que fazer com suas doze criações.

O Coração de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora