Relógio bate cinco e cinquenta e sete. Olho para fora pela janela e só vejo nuvens avermelhadas que me remetem tempos que já não voltam mais.
Acompanhada de minha cadeira está o cheiro do café que esvai como se fossem folhas ao vento.
Faltando apenas um passo para chegar à porta, olho para trás, olho para minha casa, meu lar, o lugar onde tudo, mas ao mesmo tempo onde o nada acontece. Os móveis e o silêncio a preenchem. Novamente, lembranças... Com a xícara na mão, dou o passo que me liberta daquele silêncio provinda de um vazio.
O silêncio, então, quebrara como se fosse um sentimento firme posto a frente de uma frustração amorosa. O canto dos pássaros, já esmorecido, mostra-se presente em meio aos fracos ventos.
Dou um gole no café e sinto o amargor... da solidão, da tristeza... da angústia. Olho para dentro de casa pelo fraco balanceio da cortina que me permite ver poucas coisas, porém, suficientes para mostrar que não quero entrar. Cada segundo que se passa, é um sentimento horrendo. Olho para o céu, franzinos pássaros tomam minha atenção:
"-Por que vocês não voam para longe? Vão para um lugar mais aprazível."
A noite cai, o que antes era o canto dos pássaros, o barulho da cigarra, se tornara um silêncio que corta a alma com o mais profundo desvelo. Quando acordo, não tenho vontade de levantar da cama. Passo horas nela, olhando o teto e pensando. O que se assemelha ao presente momento. Não quero sair dessa cadeira e voltar para dentro. Aquela casa me faz mal, aqueles móveis me fazem mal, aquele silêncio me faz mal.
E o pior de tudo... hoje é só mais uma tarde de domingo...