Coma

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O som dos bips ultimamente estão mais fortes.

Já entendi o que houve, só não sei como. Algumas palavras abafadas e externas dizem que estou me recuperando bem.

Porém, algo soa estranho: o jardim tem se tornado mais vermelho e a sombra está tão perto que, se pudesse estender um braço, talvez a alcançasse.

É tão surreal, isso. Não sei quanto tempo tenho estado aqui, porém, seria o suficiente para me acostumar. Mas não me acostumei. É agonizante, é doloroso, entretanto, não é uma dor física, é algo na mente. Consome, não a matéria, mas o que está dentro. O imaterial, o intocável. Talvez se fosse físico, não fosse tão ruim. Mas é psicológico.

Dói o fato de não poder me ver, dói o fato de não poder falar. O fato de saber o que vê, saber o que está ali, mas sentir como se seus olhos estivessem fechados. O fato de que sente toques, entretanto, seu corpo, não é seu corpo. Sua mãe chora e te pede perdão, mas você não pode fazer o mesmo.

Eu estou em coma.

É quase como uma paralisia do sono, só que real e que não se resolve em segundos.

E o que mais consome é o medo. O medo do desconhecido. Ali eu sinto e vejo a morte. E ela é convidativa. Seduz, é assustador como, embora  tenha medo, meus instintos são atraídos para ela. Estou num cabo de guerra, onde a morte me puxa e eu a puxo. Sei que ela se sente atraída por mim, mais uma presa. Mas não vou, mesmo que seja excitante a ideia de conhecê-la, não vou. Morte, se me quiser, me vença...

De repente...

O jardim e a silhueta começam a se tornar turvos. A visão embaçada.

A agitação externa torna-se mais forte

"Está acordando, está acordando"

Ah! Estou escapando do coma!

Então abro os olhos. O rosto de minha mãe, os médicos e enfermeiros, forço um sorriso... Ah, estou vivo!

E tudo se apaga.

Eu... Morri?

Wake UpOnde histórias criam vida. Descubra agora